domingo, 30 de outubro de 2011

Reforma?

Amanhã, dia 31, comemora-se a dita reforma protestante, fato cercado, como todo o fato histórico, de versões... O mais importante, penso, é que o legado de Lutero contra a venda imoral de indulgências papais perdeu-se, apesar da multiplicação de bíblias. Ora, esta, que o fiel, embora analfabeto, deveria saber conter a palavra divina, tornou-se, em ridícula redução à letra impressa, a própria - e assim um verdadeiro patuá, pois; e a venda de bênçãos e milagres de ocasião, à vontade, e acorde a demanda de ávidos fregueses, fizeram dos incontáveis casinholas da teologiazinha da prosperidade antros piores que o do pátio do vetusto templo de Jerusalém quando repleto de vis vendilhões. Mas já não há mais quem os espalhe e atormente com as cordas e seus nós, nem quem explique a quem pretenda ter Fé a extensão de uma Palavra toda Nova, de incondicional Amor, só doação, urdida  numa paixão incontida pela Vida!

domingo, 23 de outubro de 2011

Caruncho de cruz

Domingo, e você certamente já viu um, ou logo, logo, verá, mesmo não indo a igreja alguma: o caruncho de cruz - um ser deveras peculiar, típico, cujas características essenciais, que permitem identificá-lo com bastante facilidade são: não tem outro assunto que doutrina; reserva moral, critica tudo; acha-se professor de todos; pegou na Bíblia com cola instantânea na mão inteira; diz-se assexuado (temporário, até casar); arrisca um olho só, se na ausência de testemunhas; não fuma, bebe ou dança, mas fofoca muito e come demais; a chatice vem à sua frente, não percebida, contudo, por uma pessoa (adivinhem quem...); paga em dia, com rigor, seu consórcio celestial, desdizendo dos que não o fazem; se não o fizesse, isso não seria tão fundamental; seus erros são todos debitados na conta do diabo (culpa, o que é isso?); e nas preces não pede pelos outros ou agradece - mesmo porque não recebeu ainda tudo que merece de seu pai...

sábado, 8 de outubro de 2011

Egoísmo

Ela se disse uma vez sua e, a partir daí, ele a queria única e exclusivamente para si, só para o seu prazer, a sua alegria, somente para a sua mais completa e infinita satisfação, de que ninguém, ninguém mesmo, jamais participaria, pois ela era sua, toda sua, apenas sua, desde os pés à cabeça, o corpo todo lindo, perfeito, como um desenho feito de uma vez - sem rascunho, sem rasuras -, numa agonia idólatra e corrosiva - tal qual toda agonia e toda idolatria -, e para sempre, do mesmo jeito, encantadora em sua paz, cândida em sua expressão, doce em seu gosto, cujo alento, ou desalento (quem sabe) o motivavam a lhe devotar cada segundo, cada fragmento de pensamento, cada chance de carinho, as chaves do enigma dos seus segredos mais bem escondidos, o azul e as estrelas de seu céu, a brisa de sua tarde... Por isso a matou, conservou, e escondeu. Mas, ó Deus!, onde??? Sofre de dar dó até hoje, cruel e amargamente! Memória...