terça-feira, 30 de setembro de 2008

Des-esperança

Passeio ultimamente pelas ruas de diversos bairros de Curitiba, caminhando, ou em meu automóvel, nos mais diversos horários, e noto um número considerável, muito grande, de gente desesperançada, olhando para baixo, sem ânimo algum, isolados de tudo e de todos... O quadro em si é desolador, e de dores muitas, muitas, intensas, severas, por certo! A questão não é, como se poderia, com propriedade, pensar, apenas de ordem econômica; não! Melhor não se ser tão precipitado e observar que é de ordem íntima, pessoal, afetiva, social, numa conjugação estapafúrdia, animalesca, capaz de ir destruindo aos poucos, inexoravelmente. Ah, as pessoas! As pessoas vão se perdendo, estão chegando logo a seu limite e não alcançam ser ouvidas a respeito, com respeito.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Po e sia

levo você
eu a conduzo até lá
vou com você
onde quer mais chegar
o quanto queira estar
pode ficar de-vagar
espero junto sua volta
e vou velar
o seu descanso solto
leve sem apressar
a hora exata
do seu despertar
a um novo levar

domingo, 28 de setembro de 2008

Fra g mento (+1)

Chegou até a janela e olhou. Fechada, dado o frio que fazia, já noite alta, a luz da sala acesa, viu seu próprio rosto ali refletido. A rua praticamente vazia, no prédio em frente uns poucos apartamentos a aparentar gente como ele, acordada; a maioria a dormir, alheia a tudo. Felizes, estes adormecidos, ou estes insones infelizes por serem assim? Não sabia, não imaginava sequer! Lembrou-se de uma canção popular, cuja letra, no entanto, lhe faltava completar. Não, não ousaria cantarolá-la senão mentalmente... Que saudade de outros tempos, de outros locais, de outras pessoas. Ora, por que não poderia, ainda em tempo, despojar-se, despir-se, dejetar-se, com toda a sua ânsia de vida; contida, sim, represada; mas, por que não? Que se danasse tudo! A lágrima, uma só, corria de seu olho esquerdo, fria. Antes que fosse longe, enxugou-a.

sábado, 27 de setembro de 2008

Diá logo s

- Você tem certeza de que ela vai assinar?
- Claro que vai, claro que vai!
- Mas, e as condições, ela está sabendo?
- Expliquei tudo mil vezes; sabe sim...
- E quando isso vai acontecer?
- A audiência está próxima, não se preocupe.
- E quanto a nós?
- Como assim “a nós”?
- Nossa relação...
- Precisamos manter o sigilo por um tempo.
- Verdade. É melhor mesmo.
- Depois, sendo juizes aqui na capital, querido...
- Eu sei como é!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Comment?

Quem é o mais carente, o homem com a cara de crente ou a mulher que vive doente? Ele padece de uma paixão indolente, mente, e ela imagina inocente que engana a gente, mente. Sinceramente, então gente, quem é mais carente, careta e dependente, a dama, o valete ou o rei? Que ponha a carta certa a cartomante, se é valente; e não minta se é vidente! Evidentemente, não há razão na covardia do carente, que põe na fossa o que sente e ainda se ressente com o fedor do seu sentir – quem logo percebe não lhe mente: diz, corre e se faz ausente. Dê-se a si daí o presente de se expor, decente ou indecentemente (depende da lente), mas sem choramingo de criança com pungente dor de dente; e o faça freqüentemente, entendendo-se gente, tendo em vista o que lhe é competente!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Imaginarium

Até onde vai, e se estica feito um elástico que se encomprida a afinar resistente, e chega a nossa imaginação? Longe, longe demais às vezes... Produto de quereres que de rotundos não nos cabem acomodados a lançar-se à ação, nossos sonhos desejosos arriscam-se melodiosos nesse imaginar adocicado, delicioso, morno e absolutamente estéril. Não me enganei ou a vocês: estéril! Sem dúvida, necessário dar vez e as asas de que necessitamos a nos permitir criar, mas o incontido ao tomar conta desfaz tal vantagem e nos vemos engodados, tendentes à queda e à fratura exposta da feliz e ansiada construção oca do sonhar acordado, sem expectativa, ou seja, propriamente a assim viver! E a viver nunca... Sei que é à realidade e a pouco sono e bem nomeado que ela acontecerá!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

HEG 2

E miséria lato sensu! Tem gente que não sabe ler, nem falar, estropiados, mal vestidos, feíssimos, sem dentes, com a qualificação e a capacidade de “ser casado”, com slogans e palavras de ordem de dar vergonha. O cara do suco, o tio da farmácia, o do cachorrão, professor, médico, os filhos da... digo deles que já estão lá, só faltou o Sunda; travestidos, personagens, eles ofendem. Por outro lado, onde estão os que poderiam doar-se um pouco pelo bem comum sem corromper-se e vender a alma ao ruinzão? Onde estou eu??? Nós estamos perdidos, talvez, se achamos normal isso que aí está. A função está próxima. Logo teremos não os leões a rugir, os elefantes a fazer movimentos suaves, mas palhaços sem graça a buscar fazê-la brotar feito vômito fermentado nas bocas... das urnas!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

HEG 1

O que aprendo todas as vezes que assisto ao horário eleitoral gratuito, seja no rádio ou na televisão? Essa é a grande questão: o que verifico a partir daí, do tempo gasto nessa atividade? Tenho para mim que a democracia não se faz assim! O nível dos tais candidatos chegou ao fundo do poço. Os partidos políticos, sem ideologia, já haviam se tornado grupelho de muitos oportunistas e desonestos, agora sem o menor preparo para um labor legiferante com o mínimo de decência, coisa que eles não sabem sequer por sorte do que se trata. Direita, esquerda, centro, frente ou costas, dá no mesmo - a genti ri mais do que em programa de humor e chora como em velório de mãe, chora de dó de si, do Brasil, da política e do poder legislativo. A miséria rege o ato/voto!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Po e sia

os dias passam
demorados frios tolos
noites se arrastam
cruéis longas surdas
vou atrás de ventos
movimentos brisas
ares novos limpos
sem lembranças
mas me descubro envolto
em tão imagens vivas
ali às margens curvas
da sua juventude
a retrair esse meu tempo

domingo, 21 de setembro de 2008

Fra g mento

O mar continuava a enviar ondas espumantes a rolar solenes e francas sobre a areia fina da praia onde ele sorvia o sopro da brisa amistosa que lhe acariciava o corpo; que oportunidade ímpar, a sós, para refletir um pouco sobre a vida, os últimos acontecimentos, e as decisões que poderia tomar para dar rumo a seus acalentados sonhos e vívidos ideais. Seria ele um fraco? Um ingênuo, então? Um tolo, talvez, ou sem vivência que bastasse... Pouco importa, não queria mais saber, mas resolver, a si, resolver-se, enfim, endireitar o disperso, as linhas todas arredias e teimosas dos desacertos que o faziam sofrer tanto, e silente. Ele acreditava poder fazê-lo, e cria firmemente nos bons resultados de seus esforços racionais. O coração? Ah...! Esse, já de há muito, não lhe obedecia mais!

sábado, 20 de setembro de 2008

Diá logo s

- Não, eu não vou falar com ninguém, cara...
- Tá louco! Mas eles vão descobrir, e logo.
- Mas eu não destruí aquele documento; vou fazer o que lá?
- Vai explicar isso aí, pois eles estão falando a respeito e vão chegar a você! Não consegue entender, rapaz?
- Eu sei quem foi, na verdade sei, mas não vou entregar, pois não sou um dedo-duro, um alcagüete!
- Vai ficar mal então, pior que isso... Armaram prá cima de você. Eu iria lá e contaria tudo o que sei, dane-se quem pegou e deu fim no maldito papel...
- Não posso, prefiro correr o risco; não posso!!!
- Foi ela... Isso mesmo!
- Idéia sua, idéia apenas sua...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Desgraça pouca...

É engraçado o quanto nos incomodamos por nada, quase que por nada mesmo! O pouco, e o irrisório, o que é realmente desprezível, parece ter aquele miserável condão de envolver-nos, e de uma forma tão completa, capaz de chegar às raias do absoluto, que nem imaginamos como nos livrar, escapar das pequenas grandes pragas que parecem perseguir-nos. Que ilusão perigosa e infeliz! Somos privilegiados sim, e tratemos de reconhecer isso, antes que chegue o dia em que, com efeito, algo de muito sério e grave se assenhoreie de nossas vidas e então nos maltrate duramente, de verdade... Diz-se que desgraça pouca é bobagem - pura besteira! Experimente a saúde, a paz..., ainda a falta de. Nessas horas é que bem nos recordamos daquilo que nunca deveríamos ter deixado ir! Não?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vítimas?

Não há algozes e vítimas, nada disso - somos todos os atores principais, os protagonistas de nossa história, de nossa vida, donos solitários de nossa existência! Nenhum de nós se exime das suas responsabilidades, e das suas más ou, até mesmo, péssimas escolhas. Que fazer se nós não sabemos nos arranjar convenientemente, se selecionamos de um modo equivocado? Tentar colocar sobre os ombros alheios, identificados ou não, a razão disso ou daquilo não convence mais a ninguém, salvo o inocente semelhante, à cata de fazer igual na sua própria vez. Fácil alguém que não nós para dar conta de nossas incontáveis mazelas, seja divindade, governo, ou mãe, pai, filho, etc., e, na falta, o cara ali da esquina, ilustre estranho. Chega dessa vitimização tão chorosa e assaz gozosa... Vítimas? Não as há!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tá viva!

Há ocasiões nas quais de modo acentuado a economia, fora o tempo, demonstra que está viva, a merecer nossa atenção integral. Os sustos nesses mercados todos, e nos seus setores diversos, nessa época duma franca globalização, nesse cassino, enfim, põem as pessoas, grupos, os países e blocos, em alerta máximo, sem que haja como culpar os de sempre por isso; dias estranhos estes nossos dias mercadológicos, sem a menor razão, sem lógica econômica, de simples efeitos-dominó, e sem dó alguma de qualquer um que invista, quer especule ou não! Aonde vamos com altos e baixos, mais baixos que altos, assim, com tais oscilações? Ora, vamos até onde se agüente e nos leve (a vagar) o tal capitalismo que nos conduz, sem luz nenhuma, hegemônico, vão, prestes a simplesmente quebrar!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Po e sia

por que te envolvi
na branca espuma
dessa fantasia tênue
e logo resolvi
manter-te à mão
num vivo pensamento
que insisto em vão
me deixe livre
do seu eco rouco
ao menos por um pouco
a respirar de mim
não te queria assim
não te queria breve

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Po e sia

você vai sim
sei também
e é uma pena
vai chorar
vai sofrer
já não liga
ou se importa
chega a hora
e logo vai
a vida é aqui
mas se defende
dela de si de
como eu sei

domingo, 14 de setembro de 2008

Diá logo s

- Não, mamãe, não me bata!!!
- Sua besta infeliz...
- Mas não fui eu, não fui eu! ...Ai!!!
- Como não foi? Eu não sou burra!
- Juro, juro que não fiz nada, mãezinha.
- E como ele se machucou então, moleque?
- Ele tava bêbado, tropeçou e caiu...
- Seu mentiroso!
- Não, mamãe, veja o osso quebrado ali, veja só.
- Hum... Tá! Vou ligar prá polícia daí.
- E dizer o quê?
- Que chegamos e encontramos ele morto... Que mais?
- Eles vão acreditar?

sábado, 13 de setembro de 2008

Vontade dá de... 2

Agora que se aceitou que vontade de dá de verdade e nos toca fundo, onde nem bem sabemos, mas que é no corpo ah isso é, parece que nele todo e em lugar nenhum especificamente que dá, que bole, que mexe, o passo seguinte é fazê-la passar. Dá vontade de sim e como dá e como lhe damos nós de comer? Bem, temos que reconhecê-la e conviver com ela. Nem sempre podemos tudo (que bom!), mas algo sempre se pode (que ótimo!). Tantas vezes cabe falar e silenciamos, engolimos quando cuspir até seria melhor; cabe tocar e recolhemos os membros (!), ir e teimamos em ficar inamovíveis como se pesados, paquidérmicos. E ela mesma ali a nos querer evitar o sofrimento ou a dar-lhe sentido nobre; e daí, creio eu já não se poderia falar em sofrer, mas de pura e simples vivência...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Vontade dá de... 1

Quem não teve lá suas vontades? Todo mundo, convenhamos, as teve, tem e terá por muitas e muitas vezes no curso de seu viver, e terá, por igual, de lidar convenientemente com isso, porque, se mal lidar, mal lhe será dado, e aí bastante! A primeira coisa a fazer é não negar, mas aceitar que dá muita vontade de. É vontade de a dar com o pé: a coisa existe e nos atormenta e dizer que não existe não a elimina, e não nos exime, de modo algum. Então cabe a aceitação pacífica, consciente, prazerosa até; cabe saber dizer que ela bate à porta e que sabemos que se trata disso sim, da vontade de, que dá e dá à beça, que só faz assim... Porque caso não existisse, assim não o fosse, simplesmente não seríamos; exatamente! Ruim a morte; pior a mortificação, sem dúvida.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Eu

Hoje resolvi falar um pouco mais de mim; não que não o faça sempre aqui, porque em cada texto, cada frase, palavra, em cada letra até, eu estou um pouco; às vezes mais, às vezes menos, mas estou. Sinto-me bem, em paz, e particularmente leve nos dias mais recentes, pronto a algo novo que surja, motive, desafie, mova. Não sentia isso há algum tempo atrás, porque ainda envolvido por algumas ilusões..., coisas de um imaginário destoante com o desejável (em todos os sentidos!). Mas o importante é que pareço haver despertado daquele sono de um sonhar tedioso, para uma vigília ágil, de dinamismo, chamativa. Que acontece então? Não sei! Em verdade, penso que são coisas mesmas da vida, comuns, quando ela passa a valer de maneira diversa, em tempos outros, rumos abertos...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Só parece...

Parece brincadeira, mas a gente tende a pensar que os outros vivem uma vida que poderíamos considerar normal, que nós é que tantas vezes somos diferentes, mas sempre tentando chegar a uma certa harmonia... Bem, ao menos tentamos, não é? Qual o quê! Ô pensamentozinho bisonho e bizarro! Com efeito, o que menos se observa, não só na nossa própria vida, mas na alheia, são as esquisitices ou as estranhezas, e de uma tal sorte que jamais haveria a menor condição de tê-las, semelhantemente às nossas, por parâmetros de alguma casta normalidade (porque a normalidade é casta, isso é certo, e essa é a sua única vantagem!). O anormal é a regra, às vezes com exceções aqui e acolá, como cediço. Mas quem aceita que seja assim com simpatia e resignação, com certa altivez até?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Vez mais

O que me espanta ainda, e não sei bem por qual razão, quiçá por insistir em manter acesa uma bruxuleante chama de esperança pelo melhor, é a falta de seriedade de profissionais que permitem dano àqueles que, sob seus cuidados, deveriam receber atenção redobrada; no caso, e no setor público, crianças. Dois menores morrem em condições terríveis em Ribeirão Pires-SP (mais um dos casos para saciar uns setores especializados da imprensa), depois de laudo dito técnico e de outras providências a asseverar que eles fantasiavam... Não, não o faziam! E agora? O problema são os técnicos ou a técnica empregada, cuja prática para nada serve? Os meninos não estão mais aí para nos ajudar a esclarecer a questão, e o festival midiático recomeça. Ao circo, portanto! Vejo-os por lá.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Po e sia

enganado por si mesmo
ele agoniza enquanto ri
sem nada compreender
nas mãos a vida em si
tão preciosa mesmo rica
seria mesmo ela vazia
nisso ele crê e prevê
que exista uma solução
para as armadilhas vis
que lhe arma o coração
e a seguir todo à frente
busca vão como crente
tão-só e só por um triz

domingo, 7 de setembro de 2008

Fra g mento

Tudo havia ficado lá atrás, e muito distante, na memória cuja evocação seria bastante difícil. Melhor assim? A vida não era a brincadeira e o sonho de outrora, de imaginação tão pronta e agradável. Então, o que fazer? Não sabia o que fazer - não era de saber mesmo, o que, e nem como; nunca soube!... Verdadeiramente, ele não sabia também o que desejar; temia debruçar-se sobre seu vazio próprio, inexpugnável, e perder-se de si. Seguia pela rua de casa e logo estaria lá. Descansaria e, mais adiante, o café e as leituras. A escrita ficaria para um outro momento. A questão de pôr reminiscências no papel e então organizar os eventos do passado lhe parecia uma tarefa impossível, mas que o fascinava. Mais um dia assim findaria e a noite daria sua vez a um novo dia, de luz, doce, leve, quiçá!

sábado, 6 de setembro de 2008

Diá logo s

- Depois do que lhe contei, o que é que eu faço?
- Não há o que sugerir; sua situação é dramática.
- Eu sei e me sinto perdido...
- Meu amigo, perdidos estamos todos. Mas pense, reflita.
- Cansei de só pensar, imaginar. Preciso agir, isso sim!
- Pois bem! Telefone, então, e marque um encontro com eles.
- Não é possível, não mais.
- Mesmo? São revelações duras! Agora que fui promovido não tenho como fazer nada e, além do mais, que imprudência!, uma subtração daquela proporção!
- Estou desesperado. O câncer...
- Lamento por tudo. Tenho que ir agora.
- Adeus, delegado!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 4

Sem dúvida será melhor perder para ganhar e ademais esperar fazendo dará sentido à feitura e à espera. O riso não será mais expressão nervosa, de uma ânsia disfarçada. Com as sensações desiludidas, os afetos não enganarão mais, nem terão a cor e o cheiro de apodrecido da angústia do insistente não-vivido, a maltratar, circulante, sem piedade. O que estava disperso se reintegrará na novidade de dias fecundos, de cuja intensa claridade deveria ter sido observador atento há muito, muito mais tempo, a atuar, sem saberes ou compreensões. Chances assim não param de acenar por todo lado. Necessito vê-las, notá-las, tocá-las com serenidade e bastante ânimo, para a sanidade, e não só minha, seja do modo que for. Não é mera aposta, irrisória, mas um passo natural, e provocativo!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 3

Ah, que vontade de subverter o mundo, a vida, tudo enfim, e eu mesmo! Ah, que presente adorável e precioso um futuro inesperado me daria e me dará se eu não me puser a tentar encaixá-lo em algo já previsto, adrede preparado – receita do erro mais comum, e tolo, a qualquer prazo... A virtude da insubmissão; o pecado de ser certinho; a canalhice de boa-fé; a safadeza pura, quase santa. Onde me escondi, em que canto da sala? Em algum quarto, e debaixo de que cama? Se eu soubesse, jamais teria aberto mão, teria sim dito sem me importar, voltaria e continuaria olhando, teria descoberto mais cedo, aos risos de gozo, que os mistérios são sabidos e os sabidos têm mistérios. Você não me teria escapado, e eu luto bastante para fazer o luto de ter te perdido, num instante...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 2

E existe alternativa, fora essa, a do caminho em círculos, de que tento escapar? Desconheço por completo, não sei de outra saída. É preciso que o primeiro voto de confiança seja em mim mesmo. Tenho que me dar à chance de depor os sonhos ocos, desistir de teimar naquilo que é estéril e inventar realidades corporais que me confirmem o desejar para continuamente permanecer desejando sem alcançar nunca e para desejar de novo sem parar, sempre, até não mais poder, dado haver alcançado a, ou ser atingido pela, homeostase final! Assim, vai rarear o atrelamento, o laço, e compartilhar jamais significará copiar, depender, ser apêndice, e ainda mais o incluir o que não falha; porque o vazio não mais assustará e de lá virão respostas, a ecoar em meus ouvidos...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 1

Há caminhos solitários, como as ruas duma cidade-fantasma, vazia; são rumos secos, áridos, nos quais eu caibo inteiro e nada mais ali cabe. Guias tristes, de leve depressão, me encaminham àquela realidade dura de me haver comigo e as minhas questões, pelas quais me dei sem receber coisa alguma em troca! Da boca seca a pergunta pelo quê me remete a quem e a seus quês, enquanto os meus porquês subsistem intactos e desesperados ante a ausência de uma resposta, ou ao menos de alguma tentativa, honesta, verdadeira, sincera. Tenho que encontrar aquilo que é só meu e originalmente meu, de minha mais autêntica lucidez e excentricidade. Onde quer que esteja, preciso achar, me achar num tal espaço e gerar a novidade que me dará o sentido vivo, conseqüente...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fra g mento

Havia algo de errado naquilo, pensou, mas exatamente aonde? Estacionou o carro, acionou o alarme e foi em direção ao escritório. No elevador, questionava as contas que vira em casa às pressas e que iria agora conferir sem se importar com o tempo que a tarefa levasse. Tanto trabalho e um erro, um equívoco! Ou seria algo proposital, golpe, armadilha? Sim, bem poderia tratar-se de uma arapuca em que feito pássaro ingênuo se veria dócil e aprisionado nas mãos inescrupulosas de um dos diretores ou dos secretários... Abriu sua sala e o ruído da explosão ouviu-se a um quarteirão dali. Corpo carbonizado. Nenhum documento encontrado. Cópia anotada em casa, bem escondida. A empregada avisou a polícia ao chegar logo cedo, no dia seguinte. Ela lera a mensagem sigilosa dele no celular...