terça-feira, 30 de novembro de 2010

Não podia...

Não podia ver o quanto sempre lhe esteve aberta a porta que o conduziria a ser o que esperara; por tantos e tantos longos anos a sensação que possuía era a de uma leve tristeza, qual (leve) a febre que mal chega aos 38 graus... Inamovível, por mais que consentisse em parecer um pião com alguma frequência, a ver à sua frente fervilharem pensamentos sem qualquer aparente sentido, cansava-se já de economizar instantes perdidos, e as palavras que engolira agora lhe pesavam no ventre dilatado, chegando outra vez a estipular o termo de tal situação - mas ainda o (re)começo, o novo, a pujança esgotavam-se ali mesmo, em casca fina. Como se pode viver assim: emoções largas e robustas num abortamento incessante? O simples risco da vida, jamais o tivesse mesmo sorvido. E podia? Haviam lhe garantido, na pequenez, em palavras-cicatriz, nunca ruminadas a contento, que... "não podia"!

sábado, 20 de novembro de 2010

O discurso

O cara brinca, dança, corre, fica parado, pula, anda e... ao falar é ali, no discurso, que dá rasteira em si próprio e vai ao solo, como o boxeador que assiste, atingido no fígado, olhos abertos, atônico, à contagem, até que ouça "dez, nocaute técnico". Falantes, não escapamos desse efeito ético da existência humana. Ético? Sim, e por que não? Ético e fatal ao nos despir ante quem se disponha a escutar, não apenas a ouvir - é um escape aqui, uma quebra acolá, um riso sem graça talvez, e revela-se o que não logramos perceber e que nos habita, a quem pagamos o aluguel... A saída possível? Bem dizermos, com justeza, sem palavras que se prestem a esconder e topando todo o equívoco possível. A psicanálise - e aqui se põem Freud e Lacan - nos convida a, e propicia, além dessa outra fala, um agir decidido, condizente, fiel a essa outra e estranha Ética, do desejo! Isso vale muito. Mas quem a tanto se dispõe?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dilma

Bastou Dilma Rousseff ganhar as eleições presidenciais no Brasil para dois fenômenos bastante conhecidos ocorrerem; vamos falar deles.
O primeiro: os a favor, que agora se põem deslumbrados, achando que tudo é fácil, automático. O segundo: os que, contrários, não se conformam com a derrota por nada e torcem para um desastre.
São duas posturas que revelam a gosto a imbecilidade humana!
Nada será obviamente sem problemas, e se o país se danar todos se danam juntos; custa entender isso? Parece que sim...
Por que não contribuir para um governo justo, apoiando-o ou fazendo oposição responsável a ele, e cada qual fazendo por si e pela coletividade? Perdeu-se essa, ganha-se na próxima.
Amor róseo e ódio rubro estão, portanto, a rodear aos que pretendem politicamente atuar de modo coerente, politica e socialmente - haja paciência!