sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O rizonte

a

sem
penar
comum
computa
formações
amotinadas
liquebradiças
dahorizontadahorizontadahorizontadahorizontadahorizontadaho
muda
ajaz

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Livro

O livro ainda é, lamentavelmente, um artigo de luxo para uns, produto desprezado para outros tantos, indiferente a alguns... Felizmente, algo essencial para os que amam a cultura, os que não pretendem alimentar a própria ignorância. Mas como se pode ter orgulho até de seu afastamento completo de todas as riquezas que cabem no livro? Há quem deteste mesmo recebê-lo como presente! Claro que o preço do livro ainda é proibitivo no que diz respeito à maioria da população, e isso sem razão plausível, que não seja o lucro, tal qual a dificuldade para se publicar nesse país, e, daí, muito material de qualidade resta nas gavetas, perdido de vez ou à espera, seja da lixeira, seja de uma chance. Precisa-se amar o livro, o ato de ler, a obra escrita, as bibliotecas e clubes de leitura, antes que seja tarde.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Imprensa

A imprensa em geral, em todos os seus tantos modos, precisa de duas coisas, seja no âmbito público, seja no privado, a ter credibilidade, ser efetivamente respeitada e relevante para a coletividade: depender quase nada de anunciantes e de governantes, respectivamente; melhor o seria de assinantes e de verba orçamentária. Ora, quem conhece pode atestar o que significam as influências na formação das pautas, na seleção de notícias que vão chegando às redações e fomentam as produções. Tudo a caber nos mandos e nos desmandos dos que obedecem às influências esquecediças de que o mais importante em sua função é informar da melhor forma as pessoas, para o seu melhor viver. Utopia? Realizável, e bem melhor que a busca irresponsável por vantagens competitivas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Povão bão!

O povo brasileiro não é bom! Ou melhor, abobalhado, faz-se de bonzinho, pelo que, diversas vezes se dá muito mal. Os piores erros são seu acovardamento, hipocrisia a só reclamar; sua dependência de governantes e do Estado, justo para se aproveitar, se beneficiar antes que os outros o façam; a ânsia por condenar, daí adorar-se crime e tragédia, a expiar misérias e merdas pessoais e coletivas...; a admiração por iguais notoriamente expoliadores, os bem-sucedidos que se quereria ser; a tal alienação televisiva, engodo anestésico da vida real; mas ainda considero que o pior deles é o desamor, o desprezo pela Língua. Daí derivam-se o apreço à ignorância, sempre abonada, porque não se lê o necessário, fala-se como um símio, escreve-se para decifradores e adivinhos. Horror!...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Po e sia s

não saber ao certo o quê
o que dizer o que ouvir
nenhuma idéia nem nada
simplesmente andar e só
rumo à própria esperança
daquela alegria criança
incontida a não caber
no peito tamanha energia
a felicidade no instante
que se quer mais reviver
como um êxtase possível
tão irreal e indefinível
que (in)capaz de acontecer

domingo, 26 de outubro de 2008

Fra g mento s

Que manhã fria... Acordar e não querer sair da cama, debaixo das cobertas a manter o corpo aquecido, como que querido. Corpo querido, repito mentalmente, a sorrir, e olho o relógio na mesinha de cabeceira. Oh, Deus, 08h00 já! O atraso, inevitável. Saio no desespero e vou ao banheiro tomar a chuveirada. Enxuto, cabelo penteado, desodorante passado, visto a roupa para trabalhar, para ouvir a terceira bronca da semana. Se perco o emprego... Café instantâneo, pãozinho e margarina. Escovo os dentes. Qual perfume? O primeiro da esquerda para a direita, na porta direita, à esquerda do armário. Pasta, documentos, agenda! Então, ouço um vizinho convidar outro, janela a janela, ao estádio. Cacete!!! No calendário, confirmo o grau do meu estresse: feriado... Argh!

sábado, 25 de outubro de 2008

Di á logo s

- Não, não acredito nisso!
- Mas é verdade.
- Não pode ser, não pode...
- Pode sim, claro!
- Que é que eu vou fazer agora?
- Não sei, é com você.
[ambos emocionadíssimos se abraçam]
- Eu vou já cuidar disso!
- Faria o mesmo.
- Você vem comigo?
- Encontro você lá daqui a uma hora, tenho um telefonema urgente a dar antes.
- Minha promoção...!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Apelido III

Havia o maluco, que num dia de Cosme e Damião, lá no Alto da Boa Vista, no Rio, viu um despacho com guloseimas mil, e as devorou, além de tomar um gole de pinga e fumar um cigarro; indagado se fumava, lembrou-se que não... Também o que não usava o bebedouro, não compartilhava merenda, e, de tão limpo, adquiriu tuberculose. E o diplomata? Tímido, educadíssimo, era magro, andava torto e tinha aquele riso contido de político. O macarrão, por óbvio, parecia-se mesmo com um, e um só. Tantos... As garotas que cobiçávamos roçar, e vice-versa, que se posicionavam estrategicamente nos ônibus, e íamos pondo em realidade, falsos ousados, aqueles sonhos primeiros. Assédio, bullying, o quê? Nossos esforços, nos anos de chumbo, por romper cascas, tão-somente viver!!!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Apelido II

As lembranças afloram gostosamente; tempos bons, de quando criança era criança e havia ainda alguma ingenuidade, coisa que desapareceu da face da Terra. Fomos os últimos? O Ibrahim, por exemplo, nosso colega que continuamente era lembrado de que esquecera a bunda em casa, de quem rimos até a urina restar incontida quando quebrou seu protuberante nariz e teve que colocar uma espécie de nariz de palhaço de gaze na ponta do mesmo, era o sírio siririca. A gente nem se dava a saber exatamente o quê nem por quê – a questão era de homofonia apenas. Nunca circulou a informação de que ele ficara deprimido com isso, traumatizado, aturdido, tadinho do bebê chorão da mamãe... Nada! Ele não era disso, nem nós; éramos simples crianças, alegres, felizes, rumo a um futuro...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Apelido I

Não tive, que me recorde, em casa, na vizinhança ou escola, apelido algum. Agora parece que se pretende a punição no ambiente escolar, quiçá do trabalho, do ato de apelidar ou outros, e isso se se apelida de modo depreciativo, cáustico, incomodando tanto que o pobre se recolhe e abraça a chorar seu velho ursinho pimpão de pelúcia - o psiquismo. Balela! Tive colegas de escola e de trabalho com apelidos que hoje dariam aquela robusta ação indenizatória e que, naquele tempo, unia-nos a todos pelo riso, inclusive do próprio, que nos apelidava de igual modo; muitos, inclusive, inteligentemente, não se mostravam incomodados e logo parávamos de os tratar pelos apelidos, que já haviam se transformado, noutros casos, em algo até carinhoso, com o que eles mesmos se identificavam...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Às vidas!

Eloá, ainda que morta, e mui tragicamente, por seus órgãos transplantados, mercê da generosidade abundantemente rica, ágil, de seus conscientes e solidários familiares, vem a salvar quase uma dezena de pessoas, que, sem isso, poderiam logo chegar à finitude imposta pela enfermidade. O causador de sua morte não impediu a vida. Dizia que a amava, que a adolescente o haveria de amar também e ficar com ele, não lhe dando as costas. De que adiantou seu gesto? Nada aproveitou a seu autor; vai sim acarretar-lhe longa e sofrida estada nalgum ergástulo público, em que será esquecido, caso a ele logre sobreviver... ao ódio próprio da ética dos demais custodiados. Que ironia! Ela o há de amar? A ele, por certo, perdoará. Amor, agora às vidas nas quais faz-se tão presente.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Po e sia s

amor nato in-perfeito
tanto quanto nós dois
inventado e in-tenso
que nos traz ares bons
aromas da madrugada
alta serena e azulada
que a vida logo aquece
e sem temor corações
sóis de fulgor a afagar
nossos corpos laçados
abrem à ternura o sábio
louco instante de amor
de desejos tra(n)çados

domingo, 19 de outubro de 2008

Fra g mento s

Finalmente o sol! Não via um dia amanhecer tão belo há algum tempo. Que sorte justamente neste dia importante, tão marcante e esperado com aquela ansiedade roedora. Pensou retrospectivamente e veio dos eventos tristes aos bem mais tristes e até desesperadores. Os lugares por onde passou retratados na mente, e os cheiros, as pessoas, os trapos, os gritos, as mortes, o calor, o frio, o sangue, a amizade, o medo, a alegria. Enfim, a esperança de realizar algo de bom para si, viver a vida, sorrir, ainda que sem graça. Seria demais a graça... Graça. Não havia mais! Lembrou-se de "grassar". Riu por dentro. Parou o recolhimento dos objetos, pouquíssimos, que tinha consigo. Após anos infindos de pena pelo homicídio da companheira, seria libertado. Seria?

sábado, 18 de outubro de 2008

Di á logo s

- Diga!
- Foi mesmo?
- Foi sim...
- E por quê?
- Sei lá, cara!
- E fica nisso?
- Pelo visto...
- E onde foi?
- Lá mesmo.
- De manhã?
- Madrugada.
- Não entendo...
- Nem eu!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Clarinha...

Que saudades de você! O tempo, ele de que você tanto falava, pregou e prega e continuará a nos pregar peças, a rir-se de nós todos. Devíamos rir dele, isso sim! O fato de você ter ido não importa se fica no coração de todos os que aprenderam a amar um ser humano assim tão especial. Lá onde o tempo não reina, a vida se renova e todos os temores desaparecem; lá, na memória, nas doces recordações da atenção, do carinho, da amizade sem fingimento ou por comodidade. Clara Maria, doce e suave Clarinha, Clarissa, o recado está todo dado, a mensagem não é final, mas inaugura outro tempo que não este que só trata do fim, do fim de todas as coisas em seu domínio, porque é assim mesmo. Mas somos e não deixaremos de ser; isso: sendo. Uma linda eternidade para você! Beijos...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Burrice!

Há quem seja burro mesmo e não se desenvolva nunca. Outros até se desenvolvem, podendo chegar a ser doutores e mesmo pós-doutores (coisa besta e que não existe, tal qual monsenhor e cardeal no catolicismo romano; o cardeal não passa de um bispo, e há realmente monsenhores intocáveis...), daqueles que vão fazer turismo aqui e acolá - um trabalhinho mais e a garantia do título! A qual burrice faço referência neste dia dos professores? Daquela que encontro em duas circunstâncias fundamentais, a saber: dos que a possuem por não quererem aprender, e a dos que a trazem por haverem aprendido e feito disso nada, sem produzir coisa alguma sua. Realmente isso! Vislumbram-se eles a ostentá-la com orgulho irrefletido, os que só sabem copiar e repetir..., tendo aprendido algo ou não.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Perdeu!

Como lidar com o insucesso? O que fazer quando se fracassa? De que modo ouvir a vida, sim, a própria vida a lhe dizer, gritar: “perdeu..., perdeu!”? Apesar de todos os esforços despendidos, de toda a energia empregada, de fazer-se praticamente o impossível, acontecem os momentos ruins, surgem peripécias do que se prefere chamar de destino, nos atrapalhamos todos – o que é mais difícil de reconhecermos -, e nos danamos, nos damos muito mal. Hora complicada; hora de recolhimento; momento privilegiado para não sucumbir. Sucumbir é coisa de bem-sucedido! O fracassado se recolhe para reunir forças e retomar, após confabular consigo e seu desejo, o rumo que, efetivamente, pretende tomar; não rumo ao sucesso, mas à realização, o que, enfim, de fato interessa.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Épocas

Ora, estive pensando e compartilho aqui com todos vocês que as épocas me parecem seres vivos, ter vida própria, obedecer ao seu mesmo ciclo; afinal, épocas são históricas, e tudo o mais – políticas, econômicas, sociais, ideológicas. Por isso, épocas nascem, crescem, desenvolvem-se, amadurecem, envelhecem, definham e, como nós, feliz ou infelizmente, morrem. Contudo, permanece sua memória possível, provável, muitas vezes, ao dispor de nossa nostalgia ou de nosso asco; mas sempre de nossa curiosidade, posto que raro ser-se indiferente à própria vida. Épocas, elas não se repetem exatamente, elas como que retornam dissimuladas e é preciso saber, com argúcia, distingui-las a fim de que sobrevivamos nelas, e a elas, sem a perca da dignidade; ao menos disso...!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Po e sia s

tudo o que preciso
acho e quero ver
reside nos seus olhos
que brilham vivos
profundos mundos
que me fazem vibrar
tal qual suas mãos
assim bem me fazem
tão leves macias ágeis
em trazer carinhos
descobrir caminhos
a me tocar inteiro
e todo um destino

domingo, 12 de outubro de 2008

Fra g mento s

Ela dizia adorar a família ou ao menos parte dela. Agora, livre da tonelada estúpida de seu ex-“namorido” – boçal, daqueles que rejeitam carros automáticos, com direção hidráulica-, vivia a tentar demonstrar felicidade no fundo aerada. Saía com relativa facilidade para ba(da)ladas em antros, anunciava que caminhava rumo ao que mais queria, sonhava feito os idosos sonhos “dantonte”, embora ainda com um ou dois projéteis, não mais, na pistola... Fotos com uns e outros lhe serviam, os que a acompanhavam, todos feios, ignorantes, sem aspecto de normalidade. Ora, mais uma perdida no mundo nada fascinante da desilusão, do tempo perdido, das oportunidades jogadas no lixão, de vaidade e de orgulho extemporâneos, a se deslocar continuamente, metonímicos...

sábado, 11 de outubro de 2008

Di á logo s

- Juro que não sabia de nada, ou não teria dito aquilo. Acredite em mim; é sério, doutor!
- Acredito sim, só que agora é muito tarde para se lamentar. Sua mãe estava doente há bastante tempo e exigiu silêncio absoluto meu sobre suas reais condições de saúde.
- Por que isso, não é mesmo, por quê?
- Vai-se lá saber! Sistemática, ela devia possuir suas razões.
- Que desconheço por completo...
- Mas não se puna inutilmente, restavam-lhe poucos dias de vida; uma semana ou mais. Sabendo ou não, ela faleceria.
- Mas eu a teria poupado. Teria!
- Bobagem... Vamos que já vão fechar o caixão.
- Teria... Teria...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Afinal...

Para sair do labirinto diante do qual nos colocamos, restando ali esperançosos, estupefatos e estáticos... (deram-nos um caminho como opção e o fizemos única rota por devoção possível à salvaguarda de nossa integridade ante a loucura provável), só há um modo: entrar nele! O oposto da realidade que nos angustia e faz sofrer, a ponto de criarmos precisas e inúteis fantasias que nos povoam qual nimbos a vida, é a realidade sem sofrimento e desangustiada, de sempre, à qual, conformados, podemos reformar nos limites à mão, porque transformados também, restaurada nossa capacidade de sonhar sem deixar de tocar o solo, de na crueza perceber o inefável, nossa humanidade e finitude a nos deixar melhores, afinados ao todo de pluriverso e uniprosa..., constantemente.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

E melhor ainda...

Daí, claro, há o sujeito que soltar-se ao frescor da existência, abandonar-se à vida livre, desatar-se em favor do conforto do afrouxamento de todas as preocupações que lhe enrugam a testa, deixam os olhos apertados, a boca seca, o coração a palpitar, a respiração ofegante, o tédio presente no bocejo, a tosse da qual a gente se lembra... e aí tosse; as dores (ah, as dores!) – de cabeça, nas pernas, no pescoço e pelo resto do corpo, dores que os analgésicos não calam, mesmo por esganadura ou estrangulamento. Então o jeito é largar-se à deriva, colocar-se ao inteiro dispor do inusitado, fazer-se espuma sobre a onda, que não se incomoda de encharcar a areia da praia, que não se retrai, neurótica, e teme, ou questiona, ou avalia, se molha a areia ou não; grita ou chora.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pensando bem...

A gente tem como se defender dessas ilusões que nos afetam os afetos, os quais, às vezes, pelo uso indiscriminado, se tornam desafetos; por um simples acaso descriminalizados, tornar-se-iam “sedafetos” - afetos assim macios, cujos efeitos sedam, e feitos de seda? Sim, pode bem ser! Mas parecem criminalizados... E nos defendemos, justamente, ao fazer dessas fantasmagorias o que são: névoas entre nós e a realidade, erigidas em nossa proteção (de nós mesmos...). Porque senão, vamos nos fazendo mal; e, de mal em mal, crostas de tristeza vão nos recobrindo, e, tão ressentidos, desaparece nosso viço. Ser viçosos apetece o apetite do mais, nos faz dar uma chance séria e merecida ao patife que nos habita e que tenta dar à graça todo seu doce e encantador ar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Realidade

As duras dores da realidade dõem bem menos do que os leves incômodos das fantasias com que nos deixamos envolver. Fantasias necessárias? Sim, até; mas não inevitáveis, e, claro, de todo superáveis em sua travessia, em nossa entrada em seus meandros, reconhecendo a função que desempenham. Por que demoramos tanto em reconhecer que não nos levam a nada o engano, as tramas construídas, o engodo, os sonhos mudos a esganiçar os sons dos que nada articulam de inteligível? Nossos gestos são, então, os dos desesperados, dos que não se emendam e se dão a todo o sofrimento. Muito triste reconhecer que é assim que entendemos a nós mesmos. Contudo, encarar (literalmente) é mais saudável e sempre haverá o palpável a aguardar por nós, cada um, singular, um.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Po e sia s

ele a outros verem
eu a você saber
ele de pé na sala
eu deitado à cama
ele a procriar
eu para o prazer
ele no peito e
eu no coração
ele para pagar
eu a usufruir
ele para ser dito
eu a ser lembrado
você e eu e-ternos

domingo, 5 de outubro de 2008

Fra g mento s

Desafios tinha em apreço e aos borbotões diante de si; faltava-lhe o desejo. Para isso, precisava ser a unidade, ou seja, se compor, porque decomposto não avançaria jamais, ficaria a dar as voltas de sempre, sem atingir senão a penosidade duma dialética infernal, à qual parece se dispusera, num prazer esgotante, tenso. O jeito seria tratar de aceitar as realidades castrantes da limitação e de sua solidão, sua unicidade. Não seria fácil acostumar-se à dor de ser, sem dor, ou, de outro modo, de cruzar seu caminho, abraçar suas verdadeiras inverdades, reconhecer-se em meio ao medonho e ainda assim encontrar-se, por isso mesmo, limpo. Um empreendimento de fôlego, de envergadura. Daria conta? Antes assim que toda a angústia que o assolava vida afora. Melhor escolher ter chance.

sábado, 4 de outubro de 2008

Di á logo s

- Mas diga, há quanto tempo o senhor sente essas dores aí?
- Ah, doutor, tem uns dias...; quase duas semanas, prá ser mais preciso. Dores horríveis!
- Sei. Deixe ver o exame que o senhor trouxe. Feito há seis meses... O senhor não voltou ao outro médico por que, afinal?
- Eu não sentia nada naquela época, e... É muito grave?
- Lamentavelmente, é sim! A cirurgia é inevitável e diria até urgente. Prepare-se, viu?
- E será que eu saio dessa?
- O senhor perdeu muito, muito tempo, um tempo precioso...
[Uma lágrima rola de um rosto]
- Algum problema, doutor?
- Nada não! Veja só, um cisco...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eleição

Ah, se o poder, de fato, emanasse do povo e em seu nome ele fosse exercido, e para um seu real benefício!... Crê-se nisso porque assim se quer, mas não é bem dessa maneira que se anda. Toda aquele trãnsito infernal de candidatos saídos por alguma porta esquecida aberta, irresponsavelmente, de algum circo de horrores reflete o momento nacional de, sobretudo, lograrmos ter em desprezo completo nossas cidades, a ponto de permitirem os partidos políticos a candidatura de elementos os mais estranhos, chegando às raias até do bizarro e do estrambólico. E para quê? Para legislar? A anedota é flagrante, e de péssimo gosto, salvo bem poucas exceções. O que se espera com tal espécie de atitude democrática. A omissão vai ter elevado custo e a besteira correrá solta em sua excelência!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Certo?

Certo? Nada disso... Em algumas circunstâncias, sob variadas condições, jamais chegaremos a saber do que mais nos intriga e acidamente questiona! Há coisas tristes assim; daríamos a vida para ter noção daquilo que permanecerá, para além de nós, como dúvida, incerteza, o que escapa, incólume, como que virgem para sempre. Não se tem o que fazer a respeito! Mas o que incomoda? O que lhe faz questão e mexe com a sua ânsia por descobrir e lhe dar por certo que? O que ela pensa? Por que ele age daquela maneira? Enfim, quando acontecerá? Como obter e realizar isso e aquilo? Será mesmo??? Que duro não saber, tanto por não perguntarmos quanto por não nos ser dito ainda assim. Mas não há o que lamentar se se dá uma resposta por dada, mesmo por que quem fala pode mentir...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Brincadeirinha...

Faça a da moça como se fosse hoje o tempo do aja, e haja o tempo sem mossa ou tampa a pregar sobre a sua taça, mesmo que a tosse como praga se espalhe no espelho da moça, a empilhar sobre o rosto o resto da massa, sem troças ou traças, que lhe encobre as rugas ricas, mas não as apaga, e sim descobre as rusgas dos afetos de regras mal afeitas, e outros dos seus tantos e tontos defeitos, que se esparramam desfeitos nas praças sem poças d’água por onde ela peca, num piscar d’olhos, quando qualquer um trampa por ali passa. Peça que ela a tonha a tenha e possa lhe trazer da missa missionária, sem a trair o eterno, a divino, uma hóstia ria da lida por idade do terno cura, que a si mesmo se permitiu enfermo, e que por tanto entre (e saia) parará lá no inferno...