segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Férias

Claro, festas do fim de mais um ano! Época de muita alegria, de celebração, de encontros, uns exageros, e, também, de férias; para mim, certamente, ao menos até o dia 14 de janeiro. Pois bem, o blog com isso deixa por esses dias de ser diário e se torna eventual. Todos esperamos por um 2009 melhor, de lutas, é óbvio, mas mais de criatividade e garra, de responsabilidade. Há uma crise a vagar; e daí? O que não pode acontecer é a crise instalada em nós mesmos. Isso sim seria desastroso, péssimo, cruel. Listas, anseios, propósitos, etc...., que sobrevivamos, consigamos nos unir em torno do comum, superando diferenças para resolução do comum. Das particularidades, cada qual dê conta, e conte muito bem. Que tudo de que necessitemos logo encontremos em sobra. Logo!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Po e sia s

você não presta
pior que sei
mas eu a adoro
douro adoço sorvo
em contínuo esforço
minha luta é vadia
e a vida é um dia
no qual você me guia
mas não me escuta
eu que me olvido
senão de um quê
um fio teso
que ata a você

sábado, 20 de dezembro de 2008

Ment...ira

E o ser humano, essa troça em forma de gente, coisa jeitosa, continua a mentir, a mentir deslavadamente, sem qualquer pudor, na "cara dura" mesmo, a imaginar, coitado, que ilude alguém, que os outros são todos idiotas. O cara consegue repetir frases que aprendeu ontem como se fossem suas e fruto de abissal sabedoria, proferindo-as com invejável propriedade, vaticínios de conselheiro experimentado; ele recheia, aumenta os diálogos, inventa-os até, alegando ter feito assim e assado, quando nem de perto isso se aproxima da realidade; passado para trás, ama sem ser amado, testa a testa e atesta sua ignorância afetiva. Como se olha no espelho e se deixa levar dominado pela própria imagem sobre ser mais do que é? Pobre diabo com ares de notabilidade e de rigor...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

2009

O que esperar do ano de 2009? Mais e menos, como sempre! Mais paz, mais prosperidade, mais seriedade, mais altivez, mais segurança, mais ética, tanta coisa... Menos conflitos, menos miséria, menos corrupção, menos lassidão, menos violência, menos hipocrisia, tanta coisa também. São sempre as mesmas contas, essas contas que não fecham, nessa pseudocontabilidade (e vai assim mesmo porque eu quero!). Isso!!! Querer. Ao invés de esperar, o que querer? Se eu quiser será melhor; nem mais, nem menos, mas melhor, por várias razões: terá que começar comigo - a primeira e fundamental, essencial! -, não será só para mim, vou me empenhar na execução, almejarei colher os frutos do que plantei. E se o querer não brigar, se for tal com o desejar, melhor ainda!...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Furo

Tanta coisa a fazer, e, de repente, adiada a escrita, foi-se a possibilidade de fazê-lo. Apareceu, então, o buraco, a falha, o furo. Refletimos tão pouco sobre isso! Não queremos, na realidade, saber nada de cuidar do problema que acomete a nossa humanidade cortada; questão comum aos que nascem, e morrem, e que se fizeram a poder sobreviver ingressar num ambiente linguageiro, no qual a morte, de tanto nos espreitar na palavra quebrada, na fala entrecortada ou interrompida, no gesto sem alvo, estabanado ou incompleto, no pensamento perdido, até no pesadelo, um dia, de cara conosco, nos acolhe a regressar ou a partir a outro campo, patamar. Sejam dadas graças pelo furo existir! Que intragáveis seríamos sem ele... E fim, por hoje!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Di a a a iD

Madonna escorregou e caiu no Maracanã, Rio de Janeiro? Mais! Quem ficou mesmo "de quatro", bem arreganhado à lua, foi o público. Pobres brasileiros...! Por que tanto deslumbramento? Por que justificar ganhos e exigências exorbitantes? Por que ver vantagem em exageros, manias, excentricidades, quando o herói é a pessoa mais comum - e não qualquer um! -, o que ganha mal, trabalha com afinco e ainda estuda ou se diverte no pouco, daí extraindo um prazer e uma alegria que não lhe serão jamais tiradas; anônimo, dá o melhor de si à família, ao país, mas não recebe em troca o suficiente. A sua recompensa melhor seriam as oportunidades, ainda tão negadas; essa é a sua "exclusãovidade"... E nesse país não existem artistas verdadeiramente estelares? Sim, ignorados por nossa torpeza!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ex tra s

Cai lenta a me olhar esguia chuva triste...
Noite de escuridão,
Noite de cão!
O foco de luz é público, vadio, balança
E seus raios esmaecidos tropeçam em minha retina sensível.
Desatinos..., destinos..., defenestrações...
Como pude vir parar aqui, neste antro,
Neste mísero espaço, imundo e sufocante?
Quarto de hotel!...
Quinto, sétimo, nono; tudo, menos quarto.
Aliás, décimo andar. Péssimo! E eu só desço
Por esses caminhos-corredores lúgubres, funestos,
A espreitar minha lida de espirais, escalas, réguas, prumos...
De quê lado da janela estou?
Ou preso nela, na vidraça poeirenta, com desenhos tortuosos
De meus dedos engordurados.
Pó que já não me sai, sujeira em minha pele curtida.
Lavo, lavo e a lava gruda, formam-se mais e mais
Grumos, formas,
Formas-pensamento, idéias de pavor...
Ah, é você???
Você existe mesmo? Aí, à porta;
Diga logo se é você ou vá também
Feito as demais ilusões que produzi a esmo,
Que encarnei, trouxe às entranhas, só para despir depois
Banhado em choro e suor na cama em que me arrependo
Desta vida conspurcada,
Arredia, lancinante, doente, terminal.
Tão noir, e que não cai..., afinal.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Di á logo s

[Ânus ou anos de casamento?...]
- Mas como você é insatisfeita! Deus me livre do inferno dessa casa. Nada nunca está bom o suficiente para você!
- Não é nada disso, apenas sou exigente, tenho meu modo de ser e daí quero ser respeitada.
- Você é uma histérica sem remédio possível, e que adora azucrinar a vida alheia – uma louca! Vou dar uma saída.
- Vá, vá respirar, e já vai tarde!
- Tarde mesmo, acredito; ainda mais vindo de você.
- A porta é a ser...
- Eu sei, secretária do demo, eu sei! Até depois.
- E o almoço?
- Coma-o todo infeliz! E vomite-o em seguida!!!

sábado, 13 de dezembro de 2008

No oo ovo

flores não
flores não
flores não
flores não
favor não enviar flores, não enviar, flores
favor não enviar flores, não enviar, flores
favor não enviar flores, não enviar, flores
flores não
flores não
flores não
flores não
flores não
flores não

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Po e sia s

minha vida é muito mais
que aprisionado
manter o coração também trancado
e as mãos a boca os pés
os olhos tudo
a querer ar livre
andar sobre as ondas
onde quer que o dia a tarde
a noite e a madrugada
levem leves a embalar
mil fantasias tristes
sobre a mesma realidade
num mundo de agir inacabado

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Di a a a iD

Uma vaca é objeto de ações violentas aqui em Curitiba (região metropolitana), isso a ponto de ter um chifre quebrado e outras barbaridades mais que não necessito arrolar. Por que tanto sadismo? Qual o motivo de maltratar-se um animal inofensivo? As pessoas estão assim: prontas, aptas, preparadas para a morte que as ronda. Não há lei; lei, o que é mesmo? A perversão anda solta a produzir estranhos gozos. E nós, como nos posicionamos diante de tantas ocorrências, nas quais a vida não tem mais sentido, valor, em que carece ela de apreço? Alguns pensam apenas em defender-se, salvar-se do mal a circular por aí. Perversão não é necessariamente igual a criminalidade, homicídio, etc. Contudo, donde sua incidência estruturante cada vez maior? Cabe, pois, verificar; sim, logo!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Di a a a iD

Aqui e acolá voltam a repetir-se ações tais que violam direitos humanos fundamentais - lamentavelmente confundidos com um ser estranho, que caminha de um lado para o outro. Estúpidos costumam até repassar o dito escutado de outros estúpidos: "O direitos humanos não vem aqui..." (sic)! A insegurança, dada a omissão de governos, já é desrespeito flagrante a toda a população, o pior deles, o mais vil e abjeto. Isso, contudo, não franqueia outras atitudes farpadas, além da imaginação a solta de que a todo momento alguém se desloca para cuidar dos direitos daqueles que erram no crime, uma espécie de plantonista bastante atento e expedito. Exigir das autoridades, nada; mais fácil satanizar o semelhante com ares vingadores, justiceiros. As pessoas militam contra si mesmas...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

No oo ovo

Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dani, se você tão (me) iria bem eu fosse...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...
Dane-se...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Po e sia s

cortina aberta e justo ali
o corpo que me inflama
que é todo ele a chama
a transformar o meu em si
sem receios medos tolos
verdadeiros previsíveis
não é possível o impasse
hoje a rompo e ouço passe
a cortina vã himenal
que desvirgino em sinal
de graça na primavera
para um desejar infindo
o que me der e me dera

domingo, 7 de dezembro de 2008

Di a a a iD

Sepultar a última ilusão ainda sobrevivente, a derradeira pura evanescência, a insistência teimosa de algo que capaz de ser entendido como perfeito, completo, absoluto, sem furo, sem a menor falta, e acabado; ...que tarefa difícil de realizar enquanto não se vê como são as cicatrizes que deixam, as marcas profundas, os sulcos daquilo que de tão bom jamais existiu de verdade, nem haverá, que tende a paralisar, estancar qualquer chance de desejar, que põe sob recalque o que pulsa e faz mumificar todo um corpo ainda vivo, que chega a cada célula para anular, tão-somente isso, anular a energia que ali permanece, dissipando-a - tarefa árdua, única e intransferível, penosa, mas para o bem, a sanidade, a fala plena, os dias ricos, abertos, de momentos tão reais, críveis...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Ex tra s

"Acontece e só", foi dito.O porto não exalava mais seu cheiro característico, atraente para uns e enjoativo a outros. Naquela tarde estivéramos juntos e, sem o saber, pela última vez. Viajaria para casa e lá voltaríamos a nos encontrar em dois meses, tempo apenas o suficiente para arrumar tudo, "arreglar la vida", e seguir ao novo, rumo a um amor que sempre sonhara viver, desde que me entendera por gente.Ela chegara assim e eu passava por lá. Havíamos nos dado bem, no acaso, como que por uma quimera, diria, e a realidade se transpusera em sonho... Realidade ou sonho? Ah, se eu pudesse escolher! Mil vezes o sonho, sonhar pela eternidade, viver por sobre as nuvens que ameaçam, que encobrem e sombreiam a realidade, que a inundam de tempestades a formar torrentes ou somem e a deixam esturricar à morte.O sol afundava célere para o horizonte e a embarcação logo iria partir; manobraria e lenta seguiria a singrar mar afora as ondas. Também meu coração se afogava nas que passavam, de emoção em emoção, vagalhões sobre um intelecto aturdido e sem função ali.Estava lá a acenar. Não! Como pensar em adeus? Nunca. Aquele sorriso indescritível lançara ferros em meu peito e meu corpo jazia entorpecido sob seu impacto derradeiro, em todos os sentidos, força definitiva que até então ignorava...O ataque fora já em águas internacionais; o alvo, equivocado; os erros (des)humanos... Manobras. Do navio que parte, da belicosidade obtusa, da desatenção, daquele portento que agora soçobra, inúteis e inúteis, da impotência que naufraga por ter que lançar fora as ilusões que me haviam tanto encantado, me alimentado mesmo, e que me faziam suportar, importar, transportar...O porto - o ponto de partida... e final.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

171... (C)

Bastante pertinente a questão oportunamente suscitada num presente comentário: e os crédulos? Ah, os crédulos... Estes não são necessariamente aqueles ingênuos seres inocentes, bonzinhos, quase que espiritualizados; ledo e rotundo engano! O crédulo é antes de tudo um duro, pétreo, e sem brechas, fendas, o próprio obturado. A sua segurança exige isso, impõe a ausência de dobra e emenda, ele não muda, não muda por nada desse mundo, para duvidar, nem que seja um tiquinho de nada por dá cá aquela palha, não! Duvidar é sofrer amargamente e carregar o peso das culpas mais espinhosas. Na sua vida o estar agarrado a uma convicção que o faça bom ou mal, melhor ou pior, vale tudo. No fundo, mas não contem isso a eles, os crédulos são os menos dignos de algum crédito!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

171... (B)

Posta enfim de lado essa ingenuidade tão crônica dos crédulos, desses eternos e irrecuperáveis acreditadores, resta-nos a abordagem da malfadada cobiça. E como essa se manifesta, de forma nada saudável? Na contingência de se tirar proveito do outro, de fazê-lo de tolo, de se ser muito mais esperto que o pobre tido por bobo, um troxa, simplório idiota. E então revela-se, de dissimulação a dissimulação, exatamente o contrário. Invertido o jogo, estabelece-se que é a cobiça que ilude à própria vítima; ele é quase um auto-enganado, por pouco. Tênue o auxílio que lhe faz emprestar o estelionatário. Tivesse ele um pingo de pena, só um pingo, e o dono da cobiça ficaria com ela sem prejuízo qualquer, sem machucar-se a si mesmo. Assim é a vida, sim, para quem a vive assim!...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

171... (A)

Nós, cariocas, levamos famas imerecidas, como, por exemplo, de ficarmos o dia inteiro na praia, de sermos irreverentes, folgazões, e muito mais, como fala esquisita, chiada, e tanta coisa que jamais imaginávamos ser ultrapassados por curitibanos num aspecto peculiar. Pois é! Há mais casos em Curitiba de estelionato que no Rio, segundo diário local noticiou há uns dois dias. Que significa isso? Dois aspectos: um mais ameno, outro nem tanto. Que ninguém se ofenda, por favor! O ameno é que existe por essas bandas mais credulidade; o nem tanto que o que acontece mesmo, no fundo, no fundo, é um grau mais acentuado de cobiça... Porque quem mais se deixa vitimar por estelionatários, e eles contam com tal tendência, são os cobiçosos! E agora, hem???

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Di a a a iD

Vi alguma coisa a respeito na rede e decidi escrever também, movido pela obviedade e importância da idéia, do cálculo feito, do constatável e inequívoco que engendram o absurdo. Aí está: o que se pretende empregar de recursos financeiros a salvar instituições bancárias, seus donos, e garantir, sempre por último, empregos e depósitos, investimentos, daria para acabar com a miséria no planeta, com a fome no mundo! Parece-me verdade, crível, a informação; a conta deve estar certa. Ora, então... Pois é! Nunca se quis mesmo pôr fim à desgraça de muitos, de outros, mas aliviar o incômodo apavorado de poucos e de nossos. Somos humanos e não podemos negar: responsáveis por tudo isso que está aí. Não adianta negar, tapar os olhos, ignorar a danação hic et nunc.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Po e sia s

momentos de tristeza
um instante de alegria
copioso flui o choro
numa noite sem fim
o olhar que já sorria
em raios de sol a pino
fonte de nostalgias
graça das novidades
ilusão de haver destino
como força nas idades
vida que tanto encanta
ilumina e então fenece
em suas ambiguidades

domingo, 30 de novembro de 2008

No oo ovo

amores amores amores amores vêm
amores amores amores vêm
amores amores vêm
amores vêm
vêm
vêm
vêm amores / amores vão
vão
vão
vão amores
vão amores amores
vão amores amores amores
vão amores amores amores amores

sábado, 29 de novembro de 2008

Fra g mento s

Nada. Não sobrara nem mesmo um mísero e solitário centavo, um só, individualista, egoista, um último. Nada mesmo! Que horror é a miséria, mesmo que temporária, e breve. Apesar de tudo, brotara a idéia de falar com o amigo que encontrara no dia anterior. Quem sabe... Ninguém, mas custar não custaria, e se custasse não poderia pagar. Em memória daqueles dias de opulência, um brinde de água da bica no copo de plástico, usado. Para comer, só pensamentos doces, imaginação, sob risco de sentir o aroma das comidas ricas, pratos elaborados. Hummmm!... Ah, sofrimento amargo, duro, cruel, doentiooooooo. Acordou! Estava sentado na cama, suando, trêmulo, o coração disparado. Zonzo, observou a moeda na mão fechada, de um centavo, um só. O último???

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Di á logo s


[No banheiro do conjugado]
- Certo, certo... Vira então.
- Tudo bem; vai!
- Hum... Hum... Hum... Argh!
- Ai, seu bruto! Devagar.
- Doeu tanto assim, bem?
- Claro! Cuidado, poxa... Vai.
- Acho que vai dar certo. Aguenta aí!
- Assim, assim, amor.
- Hã? O que?
- Mais um pouco. Tudo, viu?
- Ufa! Ahhh...
- Tirou o cravo todo, querido?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Di a a a iD

Em Santa Catarina, e poderia ser qualquer outro lugar, como é comum, incrivelmente, nesses dias de tragédia, encontram-se os que perdem tudo, absolutamente, ficando apenas com eles mesmos a cuidar. Igualmente, acham-se os que subtraem, e saqueiam, violam, a exibir evasivos em sua desfaçatez ou agrura os despojos recolhidos. Onde a vida e seus valores? Somem mercadorias de primeira necessidade; sobem com estúpido abuso os preços de tais mercadorias; o desespero é total! As pessoas, as coisas, tudo, nada, o Real... Vê-se a bondade de muitos e verdandeiros anjos, de cruéis demônios a atuar aqui e acolá, de gélidos indiferentes. A água que encobre tudo dá vida à morte, a terra que sustenta a vida encerra a existência, sob o céu ora azul ora púmbleo... E só!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ex tra s

Tenho vivido meus sonhos
- não sei mais o que fazer -,
Tantos, crus, e medonhos,
Simplesmente os sonhos
Que sempre sonhei viver.
São curtos como os contos,
Porém me fazem tremer
Só de pensar nos tontos
Enredos daqueles contos
Que não consigo esquecer.
Eu recordo tantos sonhos
- venha o que bem vier -,
Muitos, ocos, enfadonhos,
Simulacro de bons sonhos
No dia em que os tiver...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Di a a a iD

Chove, e não pouco; chove demais, até saciar a goela larga da natureza desvirtuada, do tempo incerto, arredio, e sem controle, imprevisível. Com isso, a feiúra à vista se move em direção à tristeza de ver gente desamparada, a perder tudo, alguns até a experança, vítimas de segunda ou de terceira vez. Além de bens, vidas, com seus sonhos, vão água abaixo. Não há justificativas ou explicações, salvo falta de cuidado de administradores públicos na medida de que as suas ações poderiam minorar o efeito das intempéries. Faltaram avisos e faltarão recursos! É sempre assim, não é? Sim, é claro... Note-se que estamos em novembro; mês de chuvas por aqui é janeiro. Como será o início do ano? Espero, sinceramente, que nos demos melhor, com o tempo, a natureza, nós mesmos...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Po e sia s

inevitável enamorar-se
bastou um olhar
a um outro olhar
e neles nos falamos tanto
que ouvidos reclamaram
qualquer som mais
tão encantados
aqui ao lado
de alma e corpo
a aquecer enlouquecida
a fonte de intenções assim
e das carícias tais
na pele já então indefinível

domingo, 23 de novembro de 2008

Fra g mento s

Convencido, convencido, não estava, mas decidiu que, sim, se casaria. A vantagem era muita, ante tantos anos de finanças agonizantes. Bem no dia da cerimônia, havia saboreado um risoto extraordinário, feito pela vizinha, ex-namo-amiga, ou seja..., isso mesmo! O prato, delicioso, repetiu três vezes, gulosamente. Quanto a ela, nada feito; saiu-se com um beijo na testa. Mais tarde, já no meio de tanta gente, o embrulho soltou-se, a bomba explodiu, e a roupa não teve mais salvação (ela era alugada!); a noiva fugiu, desesperada, a apertar o nariz. A infelicidade, pensou, rigoroso, é fruto da ingratidão, dos atos pérfidos de gente interesseira. O problema é que se referia a ela, ex, e não a si próprio. Ficou conhecido, desde então, como “punzinho”... Até mudou de cidade, o coitado!!!

sábado, 22 de novembro de 2008

Di á logo s

- Fui lá ontem mesmo.
- E aí, o que achou?
- Espantoso...
- Tudo tão maravilhoso, né?
- Mais prá assustador; mas gostei!
- O que te pôs medo?
- A cores, os cheiros, o ambiente todo.
- E as pessoas?
- Também!
- Daí o resultado qual foi?
- A chama da vela...
- Como é que é?
- A chama firme da vela branca!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ra SS ismo

O racismo em todo mundo está em baixa, fora de moda, cada vez mais abjeto, e ridículo, algo para a vergonha e que mal não faria em desaparecer da face da Terra, não fosse ele interno a essa coisa que teimamos em chamar de ser humano... Não há como compreender o anacronismo de haver ainda quem discrimine seu semelhante a favor de uma idéia estapafúdia, de que um é melhor e mais que outro, tudo em pról da cor da pele, e de tantas outras coisas absolutamente irrisórias! Justo aí aparece o horror exposto: na miséria fétida dos detalhes bem pequenos e incapazes de por si vir a significar alguma coisa relevante. Nada mais estúpido! Que se pense bem nestes dias sobre o que afinal pesa e importa. Salve o "almirante negro": dignidade-mor contra chibata-humilhação!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Per ver só?

O que fazer com os perversos, aqueles que gozam em se fazer objeto de gozo para o Outro, que não costumam buscar análise, mais especificamente nesses midiáticos e alarmados dias, pleno de histerias mil, os assim denominados pedófilos, os que amam crianças, nesta sua versão-de-pai (uma das, lacanianamente), qual seja, a père-version? Refiro-me aos postos sob a custódia do Estado, aqueles que, submetidos a julgamento e condenados, são encarcerados, e aí sofrem além da pena corporal (ou penas, ao odioso arrepio da Lei), a desassistência mais absoluta - indesejáveis, temidos, figuras do ódio acirrado dos que se acham a si pessoas de bem em seus espelhos mágicos (pobres diabos!). Sem dúvida alguma, escutá-los! Não são eles apenas "per ver tidos", não é mesmo?

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Di a a a iD

O Egrégio Supremo Tribunal Federal, e praza aos céus, ainda louva a Constituição Federal em um de seus aspectos de maior relevância: ele vem revogando odiosas prisões preventivas açodadamente decretadas, tendo por base o tal do "clamor público" ante este ou aquele crime praticado; são prisões decretadas por magistrados de grau inferior, tomados por idéias confinadoras, tais quais a de que é preciso prender sem antes julgar, sem a devida consideração a priori excludente da aparência do cometimento do crime e do perigo da liberdade na situação que lhes é trazida para a devida apreciação. Que é "clamor público"? Seria a histeria comum dos insuflados da mídia irresponsável e ignorante? Um medo avassalador..., de querer fazer o mesmo e de ser capaz disso? O quê, enfim???

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ex tra s

Faltou-lhe sempre tempo... Era como se essa “mercadoria” lhe escapasse dedos afora ao passar todas as vezes pelas mãos agora enrugadas. Não tivera tempo de ganhar dinheiro, de amar, de ter a família que almejara um dia, de divertir-se ao menos. Em todo tempo disponível que tivera, sonhara. Isso mesmo: sonhara! A carreira brilhante, os estudos contínuos, o exercício da profissão, ser procurado e admirado por muitos; a mulher divina e a um tempo demoníaca, que tanto o encantava sedutora ao esgotá-lo quanto lhe trazia o carinho doce e meigo, do sexo mais febril e do sono tão sereno; os filhos, os netos, uma construção viva, a extensão de si; perder-se afinal em tanto céu, tantos mares, nas trilhas das matas, na força indomável das cachoeiras - tudo sonho!!! Sonhara, como nós agora o fazemos, tão-somente sonhara, o que é muito bom... Mas deixara o melhor escoar, a realização ficara impossibilitada na ausência minutal do fazer; do tentar. Agora, para nada mesmo, com certeza absoluta, tinha todo o tempo do mundo, e também do outro, ao dispor, ao seu inteiro dispor. Sonharia, ainda, mas não mais, sob o efeito deletério e irascível do tempo, acordado.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Po e sia s

ah se eu tivesse meios
de na mata fresca densa
criar as trilhas
desbastar empecilhos
abrir as picadas
aplainar caminhos
que me levassem ao centro
núcleo ab-soluto
do seu meu coração
e à minha frente
vejo e os tenho
à mão não me contenho
seguir senão só adiante

domingo, 16 de novembro de 2008

No oo ovo

De-com-paix-ação:
P (simples letra do alfabeto)
PA (pá ou pã, ferramenta ou divindade)
PAI (do céu invocado sempre, da terra invocado por vezes, talvez bons, maus, presentes, ausentes, casados, solteiros, até mesmo homossexuais, mas uma função essencial a ser bem exercida)
PAIX (paz, no lindíssimo idioma de Racine; esperada sempre, nem sempre alcançada ou perene, mas sempre)
PAIXÃ (com efeito, absolutamente nada, até onde eu o saiba, e para qualquer um, ou mais uma adjetivação a inventar)
PAIXÃO (a própria agonia, em circuito tresloucado, a eletrizar todo mundo)

sábado, 15 de novembro de 2008

Ex tra s

“Meça o medo, meça!”
E pus-me a medir...,
Obediente, rente
À ordem demente
Eu me obriguei a ir.
Enorme, ledo medo
Que descubro rubro
Engano, desde cedo,
Da coragem-visagem
Sem pró nem porção.
Mas descubro mais,
Em meio a surtos, ais,
E, enfim, assim cedo
A um lúgubre receio
Que a falação encerra:
De mim partira ela;
Sem medo então sorri.
Pregara-me uma peça?
“Meça o medo, meça!”
E pus-me a medir...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Di á logo s

[Durante o café da manhã, naquele luxuoso duplex...]
- Mataria esses monstros com minhas próprias mãos! Eu os trucidaria, como fazem com suas vítimas inocentes...
- O que foi dessa vez? Mais uma criança morta, é certo. Na periferia, com certeza. Não vá comê-la em lugar do pão!
- Que insensibilidade a sua! Um médico frio, embrutecido.
- Ora, eu sou patologista; você sabe que eu vou por partes...
- Engraçado, é? Rirei depois, se me permite.
- E você, promotora? Denuncie-os ao invés de lhes tirar a vida sem justiça alguma!
- Fico indignada, e isso me corrói as entranhas; dói até lá, bem no fundo da minha alma...
- Alma? Quanto às entranhas, laudo em uma semana!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

888

Diz página dos Estados Unidos que espalhadas pelo país estão nada menos do que 888 grupos que pregam o ódio, sobretudo o racial. Que absurdo! Um telejornal ao fazer referência a uma delas, a famigerada KKK, afirma que iniciou-se a praga com uns protestantes inconformados em relação a negros a lutar por seus direitos civis. E no Brasil, quantos odientos somos? Porque não se diga que o racismo aqui passou ao largo; só se de um largo ao outro, fazendo adeptos pelo trajeto... É grande a vergonha de ainda sermos assim humanos e tão medonhos, tão despreparados para o viver, e para a com-vivência. Estamos muito mais aptos à com-moriência, visto que sem solidariedade e fraternidade espontâneas não há como sobre-viver. O número da besta não era 666? Parece...!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Auto a Judas

A ética não condiz com coisas tão comuns em nossos dias que são de arrepiar - algumas recentes, outras não. Os livros, por exemplo, no estilo do irmão de cima, de sempre dez para isso e para aquilo, são nauseantes, servem a tudo, e por isso a nada, a coisa nenhuma; iludem idiotas que se permitem pôr nas mãos inescrupulosas de quem suga dinheiro a cada página com receitinhas alienantes dados tais probleminhas, problemas ou problemões. Há filmes; e há mensagens na internet em PPS com melodias diabéticas, "correntes" com promessa e praga, os ajudadores de plantão pessoais intrometidos ou solicitados. Mas o que causa espécie é a terapia virtual, que não é isso, nem é terapêutica, mais parecendo a mãozinha do curioso e/ou do todo-poderoso, o assim achado, “psicoalquercoisa”...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Celular

Celulares, cada vez mais inflados de tecnologia, servem para tudo, tudo mesmo - fotos, clips, internet, televisão, rádio, gravações, calculadora, calendário, e sei lá mais o quê - eles até se prestam a telefones..., e falam! Aqui reside confortável o pior dos problemas, qual seja, o das pessoas entenderem e reclamarem disso que o seu celuluar pode (e deve) ser em dados momentos, maiores ou menores, desligado! O aparelho existe, o móvel, diz o nome, para que portável eu com toda comodidade fale de onde e à hora que se me dê, e não que, escravizado ao querer de quem quer que seja e queira, esteja pronto a atender a todas as chamadas e mensagens que me sejam dirigidas. Chega! Desligar o celular: uma obrigação do autônomo para não ser autômato. À disposição é o escambau!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Po e sia s

como é bom sentir-me livre
dos embaraços do teu ser
poder pensar e não em ti
sentir a brisa não arder
e flutuar no abandono
num embalar amanhecer
noite serena dia lindo
canções em pleno entardecer
guiando os atos tão a esmo
eu até custo e muito a crer
que estou bem assim liberto
do encargo duro de te ver
amor à vida / a-mor-te-...

domingo, 9 de novembro de 2008

Ex tra s

Meu Deus, que dia foi aquele? Jamais poderia imaginar que as coisas fossem acontecer daquela forma... Estávamos na Ilha do Mel, a meia hora de barca de Pontal do Paraná, estação ecológica e local aprazível para um turismo limitado, bem orientado; ficaríamos alguns dias, dias lindos e noites mágicas.No entanto, veio a idéia: que tal cruzarmos duma a outra parte da ilha, ou seja, de Nova Brasília a Encantadas, por terra? Pois é! Terra? Não bem assim – por morros pedregosos e com caminhos escabrosos.Foi o primeiro. Que horror! Pensava o tempo todo que cairia e... adeus! Desequilibrado e mal de coordenação motora, deixei evidente que sem ajuda (a vergonha se fora) não me moveria. O risco era sério! Desse, ao segundo. A mesma idéia de “vou morrer agora”. Estava um pouco mais conformado. Até que chegamos a uma praia estonteante, lindíssima; comemos um peixe inigualável!Mas a vencer lá estava o terceiro. Que tensão! Uma hora olhei para baixo e quase, fui seguro e me salvei... Continuamos. Ao chegar, xinguei tudo e todos com aqueles belos nomes que aprendera desde tenra infância.Como estava em êxtase, inventei (a maré havia baixado) de entrar na gruta. Local pitoresco, fui até o fim, toquei o encontro da rocha com a areia quase seca, e... e a água entrava, célere. Aguardei um pouco, até que ouvi que gritavam desesperados o meu nome.Não sei honestamente como, foi automático, instintivo: no retorno de uma onda pisei em pedra pontuda e sei lá mais em que, feito um alucinado a correr, e fui agarrado e puxado nervosamente para junto do grupo. Abraços, broncas, tudo misturado, e eu rindo... de nervoso, a jurar a mim mesmo que nunca mais faria aquilo. Voltamos, claro, numa canoa.Vocês não vão acreditar, eu sei, mas ela quase virou...!

sábado, 8 de novembro de 2008

Di a a a iD

Dito dia da cultura esta semana. Cultura... Isso conduz a umas coisas interessantes a se pensar sobre: a primeira delas é a identidade; a segunda, a diversidade; e então, a terceira, a relatividade. Questionar aqui é o principal, o essencial! O que nos identifica como brasileiros, grupo social, família em casa? Como tratamos do que é diferente e até mesmo se acha em oposição direta a nosso pensar, nossas escolhas? O quanto tudo isso nos subtrai a singularidade e nos suga à atroz vala comum, determinando-nos? Ah, cultura nacional! Quem dera... Quem dará? Englobalizados, encapsulados, enfastiados, buscamos o inefável e ele está na rua, na simplicidade, na vida, na comum relevância e sofisticação e refinamento tão nossos, como sempre deveriam ser, a marcar cada um per se.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

No oo ovo

iça
iça
iça
iça
iça
iça
me iça
Larissa me iça
de Larissa me iça
treliça de Larissa me iça
na treliça de Larissa me iça
melissa na treliça de Larissa me iça
A melissa na treliça de Larissa me iça

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Fra g mento s

Conseguira, e mais uma vez; fora difícil, suara feito um porco cevado (eles transpiram?), mas conseguira a tal proeza, a façanha, pela qual tanto batalhara, guerreara, como um audaz, um real intrépido; e fora altivo, loquaz, digno de nota – e que nota!... Há coisas que são assim mesmo, e não tem outro jeito não ou maneira diferente de ser, de acontecer, são assim e ponto final, acabada a discussão; é conformar-se, ir prá casa, tomar um banho, ler revista (digo, ver...) de mulher pelada, e tomar outro banho, encaramanchar-se à sedução de algum aparelho até o sono vir, tentar dormir o sono dos vagabundos, sempre abundante, e aguardar, ladino, o dia seguinte – mais um! Como todos reagiriam à indesejável notícia de que ele fora reprovado de novo? Oh, céus! Como???

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Original

Nada como se ser o mais original que se possa, ser distintivo de fato, viver intensamente seu desejo, sem acomodar-se em nada ao do Outro. Claro que isso é mais um ideal, um propósito a ser alcançado, e que jamais será algo absoluto que se logre realizar, como se ser objetivo; mas não custa tentar, não obcecadamente, senão com determinação, abraçando suas idéias com carinho, reconhecendo seu valor próprio. A tarefa é custosa, mas a criação em si, seu ato, é assim; ter-se espaço por igual, auferir satisfação também, olhar para trás e vislumbrar uma obra idem. O que não é custoso, que é tão fácil, fora sobretudo o mimetismo? Há, pois, que se almejar estar mais perto dessa originalidade, a de cada um, coisa à qual convida a psicanálise o sujeito... do inconsciente.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ex tra s

Amanhecera. Olhos ainda fixos pregados na face direcionados a único ponto permitiam entender aquele ar de cansaço profundo, de lentidão, a atestar a insone experiência, a extenuante condição da espera, da tibieza de quem se reservara para depois de tantas horas verificar se suficientes já as forças para realizar o comezinho abrir de uma carta, carta que chegara ao curso da tarde, como de costume lhe era entregue a correspondência pelo porteiro do edifício. Saído àquela hora do banho, permanecia desnudo, imóvel, a pensar confusamente sobre as chances do seu conteúdo. Estava quente o dia. Espremido de ansiedade, quedava manietado a vislumbrar o objeto recoberto por aquela camada tão rançosa de pensares turvos, mornos. Ouve então no apartamento vizinho som que chama sua atenção, de um noticiário local de televisão. Preocupa-se, pois algo tem que ser feito; daqui a pouco as pessoas vão chegar. O telefone fora desligado, mas sem dúvida alguém viria em seu encalço, seria procurado. O que teria acontecido com ele? Sorriu sem graça alguma e levantou-se. De pé, pôs-se a caminhar em direção à mesa. Tomou a carta em suas mãos, conferiu o endereçamento. Nada no envelope dava a menor notícia de quem lha remetera... Merda! Caminho sem volta; tudo estaria estampado ali, grafado com o ódio que temia consentir merecia receber do missivista. Mulher maldita! Que faria dele? Que faria ele de si. Fim de seu inferno: rasga o envelope num golpe só e, escancarado de coragem o peito, deita o olhar sequioso sobre a folha dobrada e sua face brilha e ele gargalha enlouquecido e bate-se contra a parede com aquele papel agarrado em suas mãos, trazido ao coração, à boca... Senta-se. Nada diz. Parece catatônico agora. A folha amarfanhada cai sobre a forração do assoalho. Em branco!!!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Po e sia s

seres humanos
desencantados
sem vez voz vida
ansiando por comida
restos despojos
pelos cantos alijados
olhos vidrados
mãos sem virtude
calor atitude
seres decantados
espíritos de luz
a luzir estritos
tão poucos anos

domingo, 2 de novembro de 2008

Di á logo s

- Consultório. Bom dia!
- Bom dia! Eu preciso marcar uma consulta, por favor.
- Pois não! Criança ou adulto?
- Jovem, 25 anos.
- Certo! Exatamente daqui a um mês, às 15h30.
- Antes impossível?
- Um encaixe ou desistência... Mas ficarei com seus dados para contato. Está bem assim?
- Claro. E o valor?
- Os honorários serão estipulados somente após a devida avaliação clínica por uma equipe.
- Ah, compreendo... Muito obrigada então!
- Não por isso. Disponha. Bom dia!

sábado, 1 de novembro de 2008

Di a a a iD

Babás ou acompanhantes, e quaisquer empregadas para isso, tomem o nome que for, pouco importa, continuam em posição que jamais poderiam ocupar; e batem, maltratam, torturam, tocam sem pudor, dó, fustigam, irritam, fazem adoecer ou piorar, podendo até matar, idosos, deficientes, enfermos, crianças, bebês. Mulheres de todas as idades a se vingar de si, de outros, nesses que lhes estão tão próximos, que assim são colocados como sacos de pancadas aptos a amortecer sua irresignação expiatória. Fruto da miséria, ignorância, de psiquismo a merecer escuta, despreparadas, conseguem emprego, num mundo no qual isso, um mero trabalho a fazer, por mais simples a tarefa, não é para qualquer um. Não mais! Satanizadas, são também vítimas...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O rizonte

a

sem
penar
comum
computa
formações
amotinadas
liquebradiças
dahorizontadahorizontadahorizontadahorizontadahorizontadaho
muda
ajaz

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Livro

O livro ainda é, lamentavelmente, um artigo de luxo para uns, produto desprezado para outros tantos, indiferente a alguns... Felizmente, algo essencial para os que amam a cultura, os que não pretendem alimentar a própria ignorância. Mas como se pode ter orgulho até de seu afastamento completo de todas as riquezas que cabem no livro? Há quem deteste mesmo recebê-lo como presente! Claro que o preço do livro ainda é proibitivo no que diz respeito à maioria da população, e isso sem razão plausível, que não seja o lucro, tal qual a dificuldade para se publicar nesse país, e, daí, muito material de qualidade resta nas gavetas, perdido de vez ou à espera, seja da lixeira, seja de uma chance. Precisa-se amar o livro, o ato de ler, a obra escrita, as bibliotecas e clubes de leitura, antes que seja tarde.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Imprensa

A imprensa em geral, em todos os seus tantos modos, precisa de duas coisas, seja no âmbito público, seja no privado, a ter credibilidade, ser efetivamente respeitada e relevante para a coletividade: depender quase nada de anunciantes e de governantes, respectivamente; melhor o seria de assinantes e de verba orçamentária. Ora, quem conhece pode atestar o que significam as influências na formação das pautas, na seleção de notícias que vão chegando às redações e fomentam as produções. Tudo a caber nos mandos e nos desmandos dos que obedecem às influências esquecediças de que o mais importante em sua função é informar da melhor forma as pessoas, para o seu melhor viver. Utopia? Realizável, e bem melhor que a busca irresponsável por vantagens competitivas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Povão bão!

O povo brasileiro não é bom! Ou melhor, abobalhado, faz-se de bonzinho, pelo que, diversas vezes se dá muito mal. Os piores erros são seu acovardamento, hipocrisia a só reclamar; sua dependência de governantes e do Estado, justo para se aproveitar, se beneficiar antes que os outros o façam; a ânsia por condenar, daí adorar-se crime e tragédia, a expiar misérias e merdas pessoais e coletivas...; a admiração por iguais notoriamente expoliadores, os bem-sucedidos que se quereria ser; a tal alienação televisiva, engodo anestésico da vida real; mas ainda considero que o pior deles é o desamor, o desprezo pela Língua. Daí derivam-se o apreço à ignorância, sempre abonada, porque não se lê o necessário, fala-se como um símio, escreve-se para decifradores e adivinhos. Horror!...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Po e sia s

não saber ao certo o quê
o que dizer o que ouvir
nenhuma idéia nem nada
simplesmente andar e só
rumo à própria esperança
daquela alegria criança
incontida a não caber
no peito tamanha energia
a felicidade no instante
que se quer mais reviver
como um êxtase possível
tão irreal e indefinível
que (in)capaz de acontecer

domingo, 26 de outubro de 2008

Fra g mento s

Que manhã fria... Acordar e não querer sair da cama, debaixo das cobertas a manter o corpo aquecido, como que querido. Corpo querido, repito mentalmente, a sorrir, e olho o relógio na mesinha de cabeceira. Oh, Deus, 08h00 já! O atraso, inevitável. Saio no desespero e vou ao banheiro tomar a chuveirada. Enxuto, cabelo penteado, desodorante passado, visto a roupa para trabalhar, para ouvir a terceira bronca da semana. Se perco o emprego... Café instantâneo, pãozinho e margarina. Escovo os dentes. Qual perfume? O primeiro da esquerda para a direita, na porta direita, à esquerda do armário. Pasta, documentos, agenda! Então, ouço um vizinho convidar outro, janela a janela, ao estádio. Cacete!!! No calendário, confirmo o grau do meu estresse: feriado... Argh!

sábado, 25 de outubro de 2008

Di á logo s

- Não, não acredito nisso!
- Mas é verdade.
- Não pode ser, não pode...
- Pode sim, claro!
- Que é que eu vou fazer agora?
- Não sei, é com você.
[ambos emocionadíssimos se abraçam]
- Eu vou já cuidar disso!
- Faria o mesmo.
- Você vem comigo?
- Encontro você lá daqui a uma hora, tenho um telefonema urgente a dar antes.
- Minha promoção...!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Apelido III

Havia o maluco, que num dia de Cosme e Damião, lá no Alto da Boa Vista, no Rio, viu um despacho com guloseimas mil, e as devorou, além de tomar um gole de pinga e fumar um cigarro; indagado se fumava, lembrou-se que não... Também o que não usava o bebedouro, não compartilhava merenda, e, de tão limpo, adquiriu tuberculose. E o diplomata? Tímido, educadíssimo, era magro, andava torto e tinha aquele riso contido de político. O macarrão, por óbvio, parecia-se mesmo com um, e um só. Tantos... As garotas que cobiçávamos roçar, e vice-versa, que se posicionavam estrategicamente nos ônibus, e íamos pondo em realidade, falsos ousados, aqueles sonhos primeiros. Assédio, bullying, o quê? Nossos esforços, nos anos de chumbo, por romper cascas, tão-somente viver!!!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Apelido II

As lembranças afloram gostosamente; tempos bons, de quando criança era criança e havia ainda alguma ingenuidade, coisa que desapareceu da face da Terra. Fomos os últimos? O Ibrahim, por exemplo, nosso colega que continuamente era lembrado de que esquecera a bunda em casa, de quem rimos até a urina restar incontida quando quebrou seu protuberante nariz e teve que colocar uma espécie de nariz de palhaço de gaze na ponta do mesmo, era o sírio siririca. A gente nem se dava a saber exatamente o quê nem por quê – a questão era de homofonia apenas. Nunca circulou a informação de que ele ficara deprimido com isso, traumatizado, aturdido, tadinho do bebê chorão da mamãe... Nada! Ele não era disso, nem nós; éramos simples crianças, alegres, felizes, rumo a um futuro...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Apelido I

Não tive, que me recorde, em casa, na vizinhança ou escola, apelido algum. Agora parece que se pretende a punição no ambiente escolar, quiçá do trabalho, do ato de apelidar ou outros, e isso se se apelida de modo depreciativo, cáustico, incomodando tanto que o pobre se recolhe e abraça a chorar seu velho ursinho pimpão de pelúcia - o psiquismo. Balela! Tive colegas de escola e de trabalho com apelidos que hoje dariam aquela robusta ação indenizatória e que, naquele tempo, unia-nos a todos pelo riso, inclusive do próprio, que nos apelidava de igual modo; muitos, inclusive, inteligentemente, não se mostravam incomodados e logo parávamos de os tratar pelos apelidos, que já haviam se transformado, noutros casos, em algo até carinhoso, com o que eles mesmos se identificavam...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Às vidas!

Eloá, ainda que morta, e mui tragicamente, por seus órgãos transplantados, mercê da generosidade abundantemente rica, ágil, de seus conscientes e solidários familiares, vem a salvar quase uma dezena de pessoas, que, sem isso, poderiam logo chegar à finitude imposta pela enfermidade. O causador de sua morte não impediu a vida. Dizia que a amava, que a adolescente o haveria de amar também e ficar com ele, não lhe dando as costas. De que adiantou seu gesto? Nada aproveitou a seu autor; vai sim acarretar-lhe longa e sofrida estada nalgum ergástulo público, em que será esquecido, caso a ele logre sobreviver... ao ódio próprio da ética dos demais custodiados. Que ironia! Ela o há de amar? A ele, por certo, perdoará. Amor, agora às vidas nas quais faz-se tão presente.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Po e sia s

amor nato in-perfeito
tanto quanto nós dois
inventado e in-tenso
que nos traz ares bons
aromas da madrugada
alta serena e azulada
que a vida logo aquece
e sem temor corações
sóis de fulgor a afagar
nossos corpos laçados
abrem à ternura o sábio
louco instante de amor
de desejos tra(n)çados

domingo, 19 de outubro de 2008

Fra g mento s

Finalmente o sol! Não via um dia amanhecer tão belo há algum tempo. Que sorte justamente neste dia importante, tão marcante e esperado com aquela ansiedade roedora. Pensou retrospectivamente e veio dos eventos tristes aos bem mais tristes e até desesperadores. Os lugares por onde passou retratados na mente, e os cheiros, as pessoas, os trapos, os gritos, as mortes, o calor, o frio, o sangue, a amizade, o medo, a alegria. Enfim, a esperança de realizar algo de bom para si, viver a vida, sorrir, ainda que sem graça. Seria demais a graça... Graça. Não havia mais! Lembrou-se de "grassar". Riu por dentro. Parou o recolhimento dos objetos, pouquíssimos, que tinha consigo. Após anos infindos de pena pelo homicídio da companheira, seria libertado. Seria?

sábado, 18 de outubro de 2008

Di á logo s

- Diga!
- Foi mesmo?
- Foi sim...
- E por quê?
- Sei lá, cara!
- E fica nisso?
- Pelo visto...
- E onde foi?
- Lá mesmo.
- De manhã?
- Madrugada.
- Não entendo...
- Nem eu!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Clarinha...

Que saudades de você! O tempo, ele de que você tanto falava, pregou e prega e continuará a nos pregar peças, a rir-se de nós todos. Devíamos rir dele, isso sim! O fato de você ter ido não importa se fica no coração de todos os que aprenderam a amar um ser humano assim tão especial. Lá onde o tempo não reina, a vida se renova e todos os temores desaparecem; lá, na memória, nas doces recordações da atenção, do carinho, da amizade sem fingimento ou por comodidade. Clara Maria, doce e suave Clarinha, Clarissa, o recado está todo dado, a mensagem não é final, mas inaugura outro tempo que não este que só trata do fim, do fim de todas as coisas em seu domínio, porque é assim mesmo. Mas somos e não deixaremos de ser; isso: sendo. Uma linda eternidade para você! Beijos...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Burrice!

Há quem seja burro mesmo e não se desenvolva nunca. Outros até se desenvolvem, podendo chegar a ser doutores e mesmo pós-doutores (coisa besta e que não existe, tal qual monsenhor e cardeal no catolicismo romano; o cardeal não passa de um bispo, e há realmente monsenhores intocáveis...), daqueles que vão fazer turismo aqui e acolá - um trabalhinho mais e a garantia do título! A qual burrice faço referência neste dia dos professores? Daquela que encontro em duas circunstâncias fundamentais, a saber: dos que a possuem por não quererem aprender, e a dos que a trazem por haverem aprendido e feito disso nada, sem produzir coisa alguma sua. Realmente isso! Vislumbram-se eles a ostentá-la com orgulho irrefletido, os que só sabem copiar e repetir..., tendo aprendido algo ou não.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Perdeu!

Como lidar com o insucesso? O que fazer quando se fracassa? De que modo ouvir a vida, sim, a própria vida a lhe dizer, gritar: “perdeu..., perdeu!”? Apesar de todos os esforços despendidos, de toda a energia empregada, de fazer-se praticamente o impossível, acontecem os momentos ruins, surgem peripécias do que se prefere chamar de destino, nos atrapalhamos todos – o que é mais difícil de reconhecermos -, e nos danamos, nos damos muito mal. Hora complicada; hora de recolhimento; momento privilegiado para não sucumbir. Sucumbir é coisa de bem-sucedido! O fracassado se recolhe para reunir forças e retomar, após confabular consigo e seu desejo, o rumo que, efetivamente, pretende tomar; não rumo ao sucesso, mas à realização, o que, enfim, de fato interessa.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Épocas

Ora, estive pensando e compartilho aqui com todos vocês que as épocas me parecem seres vivos, ter vida própria, obedecer ao seu mesmo ciclo; afinal, épocas são históricas, e tudo o mais – políticas, econômicas, sociais, ideológicas. Por isso, épocas nascem, crescem, desenvolvem-se, amadurecem, envelhecem, definham e, como nós, feliz ou infelizmente, morrem. Contudo, permanece sua memória possível, provável, muitas vezes, ao dispor de nossa nostalgia ou de nosso asco; mas sempre de nossa curiosidade, posto que raro ser-se indiferente à própria vida. Épocas, elas não se repetem exatamente, elas como que retornam dissimuladas e é preciso saber, com argúcia, distingui-las a fim de que sobrevivamos nelas, e a elas, sem a perca da dignidade; ao menos disso...!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Po e sia s

tudo o que preciso
acho e quero ver
reside nos seus olhos
que brilham vivos
profundos mundos
que me fazem vibrar
tal qual suas mãos
assim bem me fazem
tão leves macias ágeis
em trazer carinhos
descobrir caminhos
a me tocar inteiro
e todo um destino

domingo, 12 de outubro de 2008

Fra g mento s

Ela dizia adorar a família ou ao menos parte dela. Agora, livre da tonelada estúpida de seu ex-“namorido” – boçal, daqueles que rejeitam carros automáticos, com direção hidráulica-, vivia a tentar demonstrar felicidade no fundo aerada. Saía com relativa facilidade para ba(da)ladas em antros, anunciava que caminhava rumo ao que mais queria, sonhava feito os idosos sonhos “dantonte”, embora ainda com um ou dois projéteis, não mais, na pistola... Fotos com uns e outros lhe serviam, os que a acompanhavam, todos feios, ignorantes, sem aspecto de normalidade. Ora, mais uma perdida no mundo nada fascinante da desilusão, do tempo perdido, das oportunidades jogadas no lixão, de vaidade e de orgulho extemporâneos, a se deslocar continuamente, metonímicos...

sábado, 11 de outubro de 2008

Di á logo s

- Juro que não sabia de nada, ou não teria dito aquilo. Acredite em mim; é sério, doutor!
- Acredito sim, só que agora é muito tarde para se lamentar. Sua mãe estava doente há bastante tempo e exigiu silêncio absoluto meu sobre suas reais condições de saúde.
- Por que isso, não é mesmo, por quê?
- Vai-se lá saber! Sistemática, ela devia possuir suas razões.
- Que desconheço por completo...
- Mas não se puna inutilmente, restavam-lhe poucos dias de vida; uma semana ou mais. Sabendo ou não, ela faleceria.
- Mas eu a teria poupado. Teria!
- Bobagem... Vamos que já vão fechar o caixão.
- Teria... Teria...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Afinal...

Para sair do labirinto diante do qual nos colocamos, restando ali esperançosos, estupefatos e estáticos... (deram-nos um caminho como opção e o fizemos única rota por devoção possível à salvaguarda de nossa integridade ante a loucura provável), só há um modo: entrar nele! O oposto da realidade que nos angustia e faz sofrer, a ponto de criarmos precisas e inúteis fantasias que nos povoam qual nimbos a vida, é a realidade sem sofrimento e desangustiada, de sempre, à qual, conformados, podemos reformar nos limites à mão, porque transformados também, restaurada nossa capacidade de sonhar sem deixar de tocar o solo, de na crueza perceber o inefável, nossa humanidade e finitude a nos deixar melhores, afinados ao todo de pluriverso e uniprosa..., constantemente.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

E melhor ainda...

Daí, claro, há o sujeito que soltar-se ao frescor da existência, abandonar-se à vida livre, desatar-se em favor do conforto do afrouxamento de todas as preocupações que lhe enrugam a testa, deixam os olhos apertados, a boca seca, o coração a palpitar, a respiração ofegante, o tédio presente no bocejo, a tosse da qual a gente se lembra... e aí tosse; as dores (ah, as dores!) – de cabeça, nas pernas, no pescoço e pelo resto do corpo, dores que os analgésicos não calam, mesmo por esganadura ou estrangulamento. Então o jeito é largar-se à deriva, colocar-se ao inteiro dispor do inusitado, fazer-se espuma sobre a onda, que não se incomoda de encharcar a areia da praia, que não se retrai, neurótica, e teme, ou questiona, ou avalia, se molha a areia ou não; grita ou chora.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pensando bem...

A gente tem como se defender dessas ilusões que nos afetam os afetos, os quais, às vezes, pelo uso indiscriminado, se tornam desafetos; por um simples acaso descriminalizados, tornar-se-iam “sedafetos” - afetos assim macios, cujos efeitos sedam, e feitos de seda? Sim, pode bem ser! Mas parecem criminalizados... E nos defendemos, justamente, ao fazer dessas fantasmagorias o que são: névoas entre nós e a realidade, erigidas em nossa proteção (de nós mesmos...). Porque senão, vamos nos fazendo mal; e, de mal em mal, crostas de tristeza vão nos recobrindo, e, tão ressentidos, desaparece nosso viço. Ser viçosos apetece o apetite do mais, nos faz dar uma chance séria e merecida ao patife que nos habita e que tenta dar à graça todo seu doce e encantador ar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Realidade

As duras dores da realidade dõem bem menos do que os leves incômodos das fantasias com que nos deixamos envolver. Fantasias necessárias? Sim, até; mas não inevitáveis, e, claro, de todo superáveis em sua travessia, em nossa entrada em seus meandros, reconhecendo a função que desempenham. Por que demoramos tanto em reconhecer que não nos levam a nada o engano, as tramas construídas, o engodo, os sonhos mudos a esganiçar os sons dos que nada articulam de inteligível? Nossos gestos são, então, os dos desesperados, dos que não se emendam e se dão a todo o sofrimento. Muito triste reconhecer que é assim que entendemos a nós mesmos. Contudo, encarar (literalmente) é mais saudável e sempre haverá o palpável a aguardar por nós, cada um, singular, um.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Po e sia s

ele a outros verem
eu a você saber
ele de pé na sala
eu deitado à cama
ele a procriar
eu para o prazer
ele no peito e
eu no coração
ele para pagar
eu a usufruir
ele para ser dito
eu a ser lembrado
você e eu e-ternos

domingo, 5 de outubro de 2008

Fra g mento s

Desafios tinha em apreço e aos borbotões diante de si; faltava-lhe o desejo. Para isso, precisava ser a unidade, ou seja, se compor, porque decomposto não avançaria jamais, ficaria a dar as voltas de sempre, sem atingir senão a penosidade duma dialética infernal, à qual parece se dispusera, num prazer esgotante, tenso. O jeito seria tratar de aceitar as realidades castrantes da limitação e de sua solidão, sua unicidade. Não seria fácil acostumar-se à dor de ser, sem dor, ou, de outro modo, de cruzar seu caminho, abraçar suas verdadeiras inverdades, reconhecer-se em meio ao medonho e ainda assim encontrar-se, por isso mesmo, limpo. Um empreendimento de fôlego, de envergadura. Daria conta? Antes assim que toda a angústia que o assolava vida afora. Melhor escolher ter chance.

sábado, 4 de outubro de 2008

Di á logo s

- Mas diga, há quanto tempo o senhor sente essas dores aí?
- Ah, doutor, tem uns dias...; quase duas semanas, prá ser mais preciso. Dores horríveis!
- Sei. Deixe ver o exame que o senhor trouxe. Feito há seis meses... O senhor não voltou ao outro médico por que, afinal?
- Eu não sentia nada naquela época, e... É muito grave?
- Lamentavelmente, é sim! A cirurgia é inevitável e diria até urgente. Prepare-se, viu?
- E será que eu saio dessa?
- O senhor perdeu muito, muito tempo, um tempo precioso...
[Uma lágrima rola de um rosto]
- Algum problema, doutor?
- Nada não! Veja só, um cisco...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eleição

Ah, se o poder, de fato, emanasse do povo e em seu nome ele fosse exercido, e para um seu real benefício!... Crê-se nisso porque assim se quer, mas não é bem dessa maneira que se anda. Toda aquele trãnsito infernal de candidatos saídos por alguma porta esquecida aberta, irresponsavelmente, de algum circo de horrores reflete o momento nacional de, sobretudo, lograrmos ter em desprezo completo nossas cidades, a ponto de permitirem os partidos políticos a candidatura de elementos os mais estranhos, chegando às raias até do bizarro e do estrambólico. E para quê? Para legislar? A anedota é flagrante, e de péssimo gosto, salvo bem poucas exceções. O que se espera com tal espécie de atitude democrática. A omissão vai ter elevado custo e a besteira correrá solta em sua excelência!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Certo?

Certo? Nada disso... Em algumas circunstâncias, sob variadas condições, jamais chegaremos a saber do que mais nos intriga e acidamente questiona! Há coisas tristes assim; daríamos a vida para ter noção daquilo que permanecerá, para além de nós, como dúvida, incerteza, o que escapa, incólume, como que virgem para sempre. Não se tem o que fazer a respeito! Mas o que incomoda? O que lhe faz questão e mexe com a sua ânsia por descobrir e lhe dar por certo que? O que ela pensa? Por que ele age daquela maneira? Enfim, quando acontecerá? Como obter e realizar isso e aquilo? Será mesmo??? Que duro não saber, tanto por não perguntarmos quanto por não nos ser dito ainda assim. Mas não há o que lamentar se se dá uma resposta por dada, mesmo por que quem fala pode mentir...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Brincadeirinha...

Faça a da moça como se fosse hoje o tempo do aja, e haja o tempo sem mossa ou tampa a pregar sobre a sua taça, mesmo que a tosse como praga se espalhe no espelho da moça, a empilhar sobre o rosto o resto da massa, sem troças ou traças, que lhe encobre as rugas ricas, mas não as apaga, e sim descobre as rusgas dos afetos de regras mal afeitas, e outros dos seus tantos e tontos defeitos, que se esparramam desfeitos nas praças sem poças d’água por onde ela peca, num piscar d’olhos, quando qualquer um trampa por ali passa. Peça que ela a tonha a tenha e possa lhe trazer da missa missionária, sem a trair o eterno, a divino, uma hóstia ria da lida por idade do terno cura, que a si mesmo se permitiu enfermo, e que por tanto entre (e saia) parará lá no inferno...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Des-esperança

Passeio ultimamente pelas ruas de diversos bairros de Curitiba, caminhando, ou em meu automóvel, nos mais diversos horários, e noto um número considerável, muito grande, de gente desesperançada, olhando para baixo, sem ânimo algum, isolados de tudo e de todos... O quadro em si é desolador, e de dores muitas, muitas, intensas, severas, por certo! A questão não é, como se poderia, com propriedade, pensar, apenas de ordem econômica; não! Melhor não se ser tão precipitado e observar que é de ordem íntima, pessoal, afetiva, social, numa conjugação estapafúrdia, animalesca, capaz de ir destruindo aos poucos, inexoravelmente. Ah, as pessoas! As pessoas vão se perdendo, estão chegando logo a seu limite e não alcançam ser ouvidas a respeito, com respeito.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Po e sia

levo você
eu a conduzo até lá
vou com você
onde quer mais chegar
o quanto queira estar
pode ficar de-vagar
espero junto sua volta
e vou velar
o seu descanso solto
leve sem apressar
a hora exata
do seu despertar
a um novo levar

domingo, 28 de setembro de 2008

Fra g mento (+1)

Chegou até a janela e olhou. Fechada, dado o frio que fazia, já noite alta, a luz da sala acesa, viu seu próprio rosto ali refletido. A rua praticamente vazia, no prédio em frente uns poucos apartamentos a aparentar gente como ele, acordada; a maioria a dormir, alheia a tudo. Felizes, estes adormecidos, ou estes insones infelizes por serem assim? Não sabia, não imaginava sequer! Lembrou-se de uma canção popular, cuja letra, no entanto, lhe faltava completar. Não, não ousaria cantarolá-la senão mentalmente... Que saudade de outros tempos, de outros locais, de outras pessoas. Ora, por que não poderia, ainda em tempo, despojar-se, despir-se, dejetar-se, com toda a sua ânsia de vida; contida, sim, represada; mas, por que não? Que se danasse tudo! A lágrima, uma só, corria de seu olho esquerdo, fria. Antes que fosse longe, enxugou-a.

sábado, 27 de setembro de 2008

Diá logo s

- Você tem certeza de que ela vai assinar?
- Claro que vai, claro que vai!
- Mas, e as condições, ela está sabendo?
- Expliquei tudo mil vezes; sabe sim...
- E quando isso vai acontecer?
- A audiência está próxima, não se preocupe.
- E quanto a nós?
- Como assim “a nós”?
- Nossa relação...
- Precisamos manter o sigilo por um tempo.
- Verdade. É melhor mesmo.
- Depois, sendo juizes aqui na capital, querido...
- Eu sei como é!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Comment?

Quem é o mais carente, o homem com a cara de crente ou a mulher que vive doente? Ele padece de uma paixão indolente, mente, e ela imagina inocente que engana a gente, mente. Sinceramente, então gente, quem é mais carente, careta e dependente, a dama, o valete ou o rei? Que ponha a carta certa a cartomante, se é valente; e não minta se é vidente! Evidentemente, não há razão na covardia do carente, que põe na fossa o que sente e ainda se ressente com o fedor do seu sentir – quem logo percebe não lhe mente: diz, corre e se faz ausente. Dê-se a si daí o presente de se expor, decente ou indecentemente (depende da lente), mas sem choramingo de criança com pungente dor de dente; e o faça freqüentemente, entendendo-se gente, tendo em vista o que lhe é competente!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Imaginarium

Até onde vai, e se estica feito um elástico que se encomprida a afinar resistente, e chega a nossa imaginação? Longe, longe demais às vezes... Produto de quereres que de rotundos não nos cabem acomodados a lançar-se à ação, nossos sonhos desejosos arriscam-se melodiosos nesse imaginar adocicado, delicioso, morno e absolutamente estéril. Não me enganei ou a vocês: estéril! Sem dúvida, necessário dar vez e as asas de que necessitamos a nos permitir criar, mas o incontido ao tomar conta desfaz tal vantagem e nos vemos engodados, tendentes à queda e à fratura exposta da feliz e ansiada construção oca do sonhar acordado, sem expectativa, ou seja, propriamente a assim viver! E a viver nunca... Sei que é à realidade e a pouco sono e bem nomeado que ela acontecerá!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

HEG 2

E miséria lato sensu! Tem gente que não sabe ler, nem falar, estropiados, mal vestidos, feíssimos, sem dentes, com a qualificação e a capacidade de “ser casado”, com slogans e palavras de ordem de dar vergonha. O cara do suco, o tio da farmácia, o do cachorrão, professor, médico, os filhos da... digo deles que já estão lá, só faltou o Sunda; travestidos, personagens, eles ofendem. Por outro lado, onde estão os que poderiam doar-se um pouco pelo bem comum sem corromper-se e vender a alma ao ruinzão? Onde estou eu??? Nós estamos perdidos, talvez, se achamos normal isso que aí está. A função está próxima. Logo teremos não os leões a rugir, os elefantes a fazer movimentos suaves, mas palhaços sem graça a buscar fazê-la brotar feito vômito fermentado nas bocas... das urnas!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

HEG 1

O que aprendo todas as vezes que assisto ao horário eleitoral gratuito, seja no rádio ou na televisão? Essa é a grande questão: o que verifico a partir daí, do tempo gasto nessa atividade? Tenho para mim que a democracia não se faz assim! O nível dos tais candidatos chegou ao fundo do poço. Os partidos políticos, sem ideologia, já haviam se tornado grupelho de muitos oportunistas e desonestos, agora sem o menor preparo para um labor legiferante com o mínimo de decência, coisa que eles não sabem sequer por sorte do que se trata. Direita, esquerda, centro, frente ou costas, dá no mesmo - a genti ri mais do que em programa de humor e chora como em velório de mãe, chora de dó de si, do Brasil, da política e do poder legislativo. A miséria rege o ato/voto!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Po e sia

os dias passam
demorados frios tolos
noites se arrastam
cruéis longas surdas
vou atrás de ventos
movimentos brisas
ares novos limpos
sem lembranças
mas me descubro envolto
em tão imagens vivas
ali às margens curvas
da sua juventude
a retrair esse meu tempo

domingo, 21 de setembro de 2008

Fra g mento

O mar continuava a enviar ondas espumantes a rolar solenes e francas sobre a areia fina da praia onde ele sorvia o sopro da brisa amistosa que lhe acariciava o corpo; que oportunidade ímpar, a sós, para refletir um pouco sobre a vida, os últimos acontecimentos, e as decisões que poderia tomar para dar rumo a seus acalentados sonhos e vívidos ideais. Seria ele um fraco? Um ingênuo, então? Um tolo, talvez, ou sem vivência que bastasse... Pouco importa, não queria mais saber, mas resolver, a si, resolver-se, enfim, endireitar o disperso, as linhas todas arredias e teimosas dos desacertos que o faziam sofrer tanto, e silente. Ele acreditava poder fazê-lo, e cria firmemente nos bons resultados de seus esforços racionais. O coração? Ah...! Esse, já de há muito, não lhe obedecia mais!

sábado, 20 de setembro de 2008

Diá logo s

- Não, eu não vou falar com ninguém, cara...
- Tá louco! Mas eles vão descobrir, e logo.
- Mas eu não destruí aquele documento; vou fazer o que lá?
- Vai explicar isso aí, pois eles estão falando a respeito e vão chegar a você! Não consegue entender, rapaz?
- Eu sei quem foi, na verdade sei, mas não vou entregar, pois não sou um dedo-duro, um alcagüete!
- Vai ficar mal então, pior que isso... Armaram prá cima de você. Eu iria lá e contaria tudo o que sei, dane-se quem pegou e deu fim no maldito papel...
- Não posso, prefiro correr o risco; não posso!!!
- Foi ela... Isso mesmo!
- Idéia sua, idéia apenas sua...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Desgraça pouca...

É engraçado o quanto nos incomodamos por nada, quase que por nada mesmo! O pouco, e o irrisório, o que é realmente desprezível, parece ter aquele miserável condão de envolver-nos, e de uma forma tão completa, capaz de chegar às raias do absoluto, que nem imaginamos como nos livrar, escapar das pequenas grandes pragas que parecem perseguir-nos. Que ilusão perigosa e infeliz! Somos privilegiados sim, e tratemos de reconhecer isso, antes que chegue o dia em que, com efeito, algo de muito sério e grave se assenhoreie de nossas vidas e então nos maltrate duramente, de verdade... Diz-se que desgraça pouca é bobagem - pura besteira! Experimente a saúde, a paz..., ainda a falta de. Nessas horas é que bem nos recordamos daquilo que nunca deveríamos ter deixado ir! Não?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vítimas?

Não há algozes e vítimas, nada disso - somos todos os atores principais, os protagonistas de nossa história, de nossa vida, donos solitários de nossa existência! Nenhum de nós se exime das suas responsabilidades, e das suas más ou, até mesmo, péssimas escolhas. Que fazer se nós não sabemos nos arranjar convenientemente, se selecionamos de um modo equivocado? Tentar colocar sobre os ombros alheios, identificados ou não, a razão disso ou daquilo não convence mais a ninguém, salvo o inocente semelhante, à cata de fazer igual na sua própria vez. Fácil alguém que não nós para dar conta de nossas incontáveis mazelas, seja divindade, governo, ou mãe, pai, filho, etc., e, na falta, o cara ali da esquina, ilustre estranho. Chega dessa vitimização tão chorosa e assaz gozosa... Vítimas? Não as há!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tá viva!

Há ocasiões nas quais de modo acentuado a economia, fora o tempo, demonstra que está viva, a merecer nossa atenção integral. Os sustos nesses mercados todos, e nos seus setores diversos, nessa época duma franca globalização, nesse cassino, enfim, põem as pessoas, grupos, os países e blocos, em alerta máximo, sem que haja como culpar os de sempre por isso; dias estranhos estes nossos dias mercadológicos, sem a menor razão, sem lógica econômica, de simples efeitos-dominó, e sem dó alguma de qualquer um que invista, quer especule ou não! Aonde vamos com altos e baixos, mais baixos que altos, assim, com tais oscilações? Ora, vamos até onde se agüente e nos leve (a vagar) o tal capitalismo que nos conduz, sem luz nenhuma, hegemônico, vão, prestes a simplesmente quebrar!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Po e sia

por que te envolvi
na branca espuma
dessa fantasia tênue
e logo resolvi
manter-te à mão
num vivo pensamento
que insisto em vão
me deixe livre
do seu eco rouco
ao menos por um pouco
a respirar de mim
não te queria assim
não te queria breve

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Po e sia

você vai sim
sei também
e é uma pena
vai chorar
vai sofrer
já não liga
ou se importa
chega a hora
e logo vai
a vida é aqui
mas se defende
dela de si de
como eu sei

domingo, 14 de setembro de 2008

Diá logo s

- Não, mamãe, não me bata!!!
- Sua besta infeliz...
- Mas não fui eu, não fui eu! ...Ai!!!
- Como não foi? Eu não sou burra!
- Juro, juro que não fiz nada, mãezinha.
- E como ele se machucou então, moleque?
- Ele tava bêbado, tropeçou e caiu...
- Seu mentiroso!
- Não, mamãe, veja o osso quebrado ali, veja só.
- Hum... Tá! Vou ligar prá polícia daí.
- E dizer o quê?
- Que chegamos e encontramos ele morto... Que mais?
- Eles vão acreditar?

sábado, 13 de setembro de 2008

Vontade dá de... 2

Agora que se aceitou que vontade de dá de verdade e nos toca fundo, onde nem bem sabemos, mas que é no corpo ah isso é, parece que nele todo e em lugar nenhum especificamente que dá, que bole, que mexe, o passo seguinte é fazê-la passar. Dá vontade de sim e como dá e como lhe damos nós de comer? Bem, temos que reconhecê-la e conviver com ela. Nem sempre podemos tudo (que bom!), mas algo sempre se pode (que ótimo!). Tantas vezes cabe falar e silenciamos, engolimos quando cuspir até seria melhor; cabe tocar e recolhemos os membros (!), ir e teimamos em ficar inamovíveis como se pesados, paquidérmicos. E ela mesma ali a nos querer evitar o sofrimento ou a dar-lhe sentido nobre; e daí, creio eu já não se poderia falar em sofrer, mas de pura e simples vivência...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Vontade dá de... 1

Quem não teve lá suas vontades? Todo mundo, convenhamos, as teve, tem e terá por muitas e muitas vezes no curso de seu viver, e terá, por igual, de lidar convenientemente com isso, porque, se mal lidar, mal lhe será dado, e aí bastante! A primeira coisa a fazer é não negar, mas aceitar que dá muita vontade de. É vontade de a dar com o pé: a coisa existe e nos atormenta e dizer que não existe não a elimina, e não nos exime, de modo algum. Então cabe a aceitação pacífica, consciente, prazerosa até; cabe saber dizer que ela bate à porta e que sabemos que se trata disso sim, da vontade de, que dá e dá à beça, que só faz assim... Porque caso não existisse, assim não o fosse, simplesmente não seríamos; exatamente! Ruim a morte; pior a mortificação, sem dúvida.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Eu

Hoje resolvi falar um pouco mais de mim; não que não o faça sempre aqui, porque em cada texto, cada frase, palavra, em cada letra até, eu estou um pouco; às vezes mais, às vezes menos, mas estou. Sinto-me bem, em paz, e particularmente leve nos dias mais recentes, pronto a algo novo que surja, motive, desafie, mova. Não sentia isso há algum tempo atrás, porque ainda envolvido por algumas ilusões..., coisas de um imaginário destoante com o desejável (em todos os sentidos!). Mas o importante é que pareço haver despertado daquele sono de um sonhar tedioso, para uma vigília ágil, de dinamismo, chamativa. Que acontece então? Não sei! Em verdade, penso que são coisas mesmas da vida, comuns, quando ela passa a valer de maneira diversa, em tempos outros, rumos abertos...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Só parece...

Parece brincadeira, mas a gente tende a pensar que os outros vivem uma vida que poderíamos considerar normal, que nós é que tantas vezes somos diferentes, mas sempre tentando chegar a uma certa harmonia... Bem, ao menos tentamos, não é? Qual o quê! Ô pensamentozinho bisonho e bizarro! Com efeito, o que menos se observa, não só na nossa própria vida, mas na alheia, são as esquisitices ou as estranhezas, e de uma tal sorte que jamais haveria a menor condição de tê-las, semelhantemente às nossas, por parâmetros de alguma casta normalidade (porque a normalidade é casta, isso é certo, e essa é a sua única vantagem!). O anormal é a regra, às vezes com exceções aqui e acolá, como cediço. Mas quem aceita que seja assim com simpatia e resignação, com certa altivez até?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Vez mais

O que me espanta ainda, e não sei bem por qual razão, quiçá por insistir em manter acesa uma bruxuleante chama de esperança pelo melhor, é a falta de seriedade de profissionais que permitem dano àqueles que, sob seus cuidados, deveriam receber atenção redobrada; no caso, e no setor público, crianças. Dois menores morrem em condições terríveis em Ribeirão Pires-SP (mais um dos casos para saciar uns setores especializados da imprensa), depois de laudo dito técnico e de outras providências a asseverar que eles fantasiavam... Não, não o faziam! E agora? O problema são os técnicos ou a técnica empregada, cuja prática para nada serve? Os meninos não estão mais aí para nos ajudar a esclarecer a questão, e o festival midiático recomeça. Ao circo, portanto! Vejo-os por lá.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Po e sia

enganado por si mesmo
ele agoniza enquanto ri
sem nada compreender
nas mãos a vida em si
tão preciosa mesmo rica
seria mesmo ela vazia
nisso ele crê e prevê
que exista uma solução
para as armadilhas vis
que lhe arma o coração
e a seguir todo à frente
busca vão como crente
tão-só e só por um triz

domingo, 7 de setembro de 2008

Fra g mento

Tudo havia ficado lá atrás, e muito distante, na memória cuja evocação seria bastante difícil. Melhor assim? A vida não era a brincadeira e o sonho de outrora, de imaginação tão pronta e agradável. Então, o que fazer? Não sabia o que fazer - não era de saber mesmo, o que, e nem como; nunca soube!... Verdadeiramente, ele não sabia também o que desejar; temia debruçar-se sobre seu vazio próprio, inexpugnável, e perder-se de si. Seguia pela rua de casa e logo estaria lá. Descansaria e, mais adiante, o café e as leituras. A escrita ficaria para um outro momento. A questão de pôr reminiscências no papel e então organizar os eventos do passado lhe parecia uma tarefa impossível, mas que o fascinava. Mais um dia assim findaria e a noite daria sua vez a um novo dia, de luz, doce, leve, quiçá!

sábado, 6 de setembro de 2008

Diá logo s

- Depois do que lhe contei, o que é que eu faço?
- Não há o que sugerir; sua situação é dramática.
- Eu sei e me sinto perdido...
- Meu amigo, perdidos estamos todos. Mas pense, reflita.
- Cansei de só pensar, imaginar. Preciso agir, isso sim!
- Pois bem! Telefone, então, e marque um encontro com eles.
- Não é possível, não mais.
- Mesmo? São revelações duras! Agora que fui promovido não tenho como fazer nada e, além do mais, que imprudência!, uma subtração daquela proporção!
- Estou desesperado. O câncer...
- Lamento por tudo. Tenho que ir agora.
- Adeus, delegado!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 4

Sem dúvida será melhor perder para ganhar e ademais esperar fazendo dará sentido à feitura e à espera. O riso não será mais expressão nervosa, de uma ânsia disfarçada. Com as sensações desiludidas, os afetos não enganarão mais, nem terão a cor e o cheiro de apodrecido da angústia do insistente não-vivido, a maltratar, circulante, sem piedade. O que estava disperso se reintegrará na novidade de dias fecundos, de cuja intensa claridade deveria ter sido observador atento há muito, muito mais tempo, a atuar, sem saberes ou compreensões. Chances assim não param de acenar por todo lado. Necessito vê-las, notá-las, tocá-las com serenidade e bastante ânimo, para a sanidade, e não só minha, seja do modo que for. Não é mera aposta, irrisória, mas um passo natural, e provocativo!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 3

Ah, que vontade de subverter o mundo, a vida, tudo enfim, e eu mesmo! Ah, que presente adorável e precioso um futuro inesperado me daria e me dará se eu não me puser a tentar encaixá-lo em algo já previsto, adrede preparado – receita do erro mais comum, e tolo, a qualquer prazo... A virtude da insubmissão; o pecado de ser certinho; a canalhice de boa-fé; a safadeza pura, quase santa. Onde me escondi, em que canto da sala? Em algum quarto, e debaixo de que cama? Se eu soubesse, jamais teria aberto mão, teria sim dito sem me importar, voltaria e continuaria olhando, teria descoberto mais cedo, aos risos de gozo, que os mistérios são sabidos e os sabidos têm mistérios. Você não me teria escapado, e eu luto bastante para fazer o luto de ter te perdido, num instante...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 2

E existe alternativa, fora essa, a do caminho em círculos, de que tento escapar? Desconheço por completo, não sei de outra saída. É preciso que o primeiro voto de confiança seja em mim mesmo. Tenho que me dar à chance de depor os sonhos ocos, desistir de teimar naquilo que é estéril e inventar realidades corporais que me confirmem o desejar para continuamente permanecer desejando sem alcançar nunca e para desejar de novo sem parar, sempre, até não mais poder, dado haver alcançado a, ou ser atingido pela, homeostase final! Assim, vai rarear o atrelamento, o laço, e compartilhar jamais significará copiar, depender, ser apêndice, e ainda mais o incluir o que não falha; porque o vazio não mais assustará e de lá virão respostas, a ecoar em meus ouvidos...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Uns pensares soltos 1

Há caminhos solitários, como as ruas duma cidade-fantasma, vazia; são rumos secos, áridos, nos quais eu caibo inteiro e nada mais ali cabe. Guias tristes, de leve depressão, me encaminham àquela realidade dura de me haver comigo e as minhas questões, pelas quais me dei sem receber coisa alguma em troca! Da boca seca a pergunta pelo quê me remete a quem e a seus quês, enquanto os meus porquês subsistem intactos e desesperados ante a ausência de uma resposta, ou ao menos de alguma tentativa, honesta, verdadeira, sincera. Tenho que encontrar aquilo que é só meu e originalmente meu, de minha mais autêntica lucidez e excentricidade. Onde quer que esteja, preciso achar, me achar num tal espaço e gerar a novidade que me dará o sentido vivo, conseqüente...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fra g mento

Havia algo de errado naquilo, pensou, mas exatamente aonde? Estacionou o carro, acionou o alarme e foi em direção ao escritório. No elevador, questionava as contas que vira em casa às pressas e que iria agora conferir sem se importar com o tempo que a tarefa levasse. Tanto trabalho e um erro, um equívoco! Ou seria algo proposital, golpe, armadilha? Sim, bem poderia tratar-se de uma arapuca em que feito pássaro ingênuo se veria dócil e aprisionado nas mãos inescrupulosas de um dos diretores ou dos secretários... Abriu sua sala e o ruído da explosão ouviu-se a um quarteirão dali. Corpo carbonizado. Nenhum documento encontrado. Cópia anotada em casa, bem escondida. A empregada avisou a polícia ao chegar logo cedo, no dia seguinte. Ela lera a mensagem sigilosa dele no celular...

domingo, 31 de agosto de 2008

Po e sia

a moça triste
como lhe assiste
com dedo em riste
brava resiste
ao homem triste
que louco insiste
que o amor existe
história triste
qual lhes assiste
sem que se aviste
o amor que existe
que louco insiste
neles em riste

sábado, 30 de agosto de 2008

Diá logo s

[Ao vivo, no lar. Eles, ao menos, chamam de lar...]
- Você bebeu de novo?
- Eu não!
- Então, que conversa é essa?
- Já disse que não sei...
- Mas eu vi o brinco!
- Mas que brinco é esse, meu Deus do céu?
- Você me paga!!!
[Telefonema lá da oficina mecânica]
- Desculpe, mas o senhor achou um brinco no seu carro?
- O que? Um brinco???
- É, da minha mulher, sabe? Estava no bolso do macacão e deve ter caído...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

É o engano...

Meus olhos me enganam. Esta é a realidade a ser conhecida! E vejo ainda alguma bondade e honestidade em pessoas que não mais possuem sequer o mínimo traço disso. Confio piamente na palavra de quem me pergunta se neles acredito ou não, e, regra geral, sou mais uma vez levado à decepção com o seu gosto amargo. Sinto a solidariedade onde reside apenas o interesse. Acredito em beijos e abraços, aqueles mesmos que não passam de apertos duros e frios de mão. E os olhares, então, de olhos vazados pelos sentimentos vis e as emoções sórdidas? Ou olho nos olhos e eles (não os meus) se desviam, escorregadios pela insinceridade. Percebo timidez onde é o asco que brota e aponta a rota de escape. Meus olhos - eles me iludem, riem de minhas tolice e ingenuidade. É o engano...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Inquietude

A inquietude é uma companheira insubstituível nesse seu labor fascinante de não nos deixar assim tão fácil a estagnação, a segurança ilusória, acachapante, que nos assenta a pegar o pó do tempo que passa sem que nos demos a menor conta de que não damos mais conta de nós mesmos, e de nada na vida, que tão-só se amontoaram sonhos fátuos e inofensíveis de um romance sem relance; e aí, em plena existência, com a morte de mãos dadas, nos aconselhamos acerca do próximo passo a não dar (se o dermos, por mero engano, que consigamos pois retroceder), aquele arroubo a evitar, os equívocos a manter distantes. Imobilizados, não somos mais belos ou doces, com amor irrequieto eu o digo, mas restamos desinteressantes..., muito! Importa dilatar limites - da mente, do corpo, do viver.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vota neu...

É impressionante a ausência de compostura dos que tomam a si candidatar-se a cargo eletivo sem um mínimo de condições intelectuais, como se suficientes ideais que nem eles sabem como expressar convenientemente, reduzidos a seu arcabouço mental de condição tão sofrível, e de uma expressão social extremamente duvidosa. Afinal, que motiva essas pessoas a tal atitude, a esse destemor? Ora, talvez seja a chance de aparecer, de poder tirar proveito, vantagem; quiçá, haja até gente séria e de bons propósitos... No entanto, certamente acredito que o motivo maior assenta-se no fato lastimável de cidadãos honestos, preparados e competentes, não terem a necessária sensibilidade para doar-se ao bem coletivo, público! A omissão evita os excessos, mas pode ser fatal em política...