domingo, 31 de agosto de 2008

Po e sia

a moça triste
como lhe assiste
com dedo em riste
brava resiste
ao homem triste
que louco insiste
que o amor existe
história triste
qual lhes assiste
sem que se aviste
o amor que existe
que louco insiste
neles em riste

sábado, 30 de agosto de 2008

Diá logo s

[Ao vivo, no lar. Eles, ao menos, chamam de lar...]
- Você bebeu de novo?
- Eu não!
- Então, que conversa é essa?
- Já disse que não sei...
- Mas eu vi o brinco!
- Mas que brinco é esse, meu Deus do céu?
- Você me paga!!!
[Telefonema lá da oficina mecânica]
- Desculpe, mas o senhor achou um brinco no seu carro?
- O que? Um brinco???
- É, da minha mulher, sabe? Estava no bolso do macacão e deve ter caído...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

É o engano...

Meus olhos me enganam. Esta é a realidade a ser conhecida! E vejo ainda alguma bondade e honestidade em pessoas que não mais possuem sequer o mínimo traço disso. Confio piamente na palavra de quem me pergunta se neles acredito ou não, e, regra geral, sou mais uma vez levado à decepção com o seu gosto amargo. Sinto a solidariedade onde reside apenas o interesse. Acredito em beijos e abraços, aqueles mesmos que não passam de apertos duros e frios de mão. E os olhares, então, de olhos vazados pelos sentimentos vis e as emoções sórdidas? Ou olho nos olhos e eles (não os meus) se desviam, escorregadios pela insinceridade. Percebo timidez onde é o asco que brota e aponta a rota de escape. Meus olhos - eles me iludem, riem de minhas tolice e ingenuidade. É o engano...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Inquietude

A inquietude é uma companheira insubstituível nesse seu labor fascinante de não nos deixar assim tão fácil a estagnação, a segurança ilusória, acachapante, que nos assenta a pegar o pó do tempo que passa sem que nos demos a menor conta de que não damos mais conta de nós mesmos, e de nada na vida, que tão-só se amontoaram sonhos fátuos e inofensíveis de um romance sem relance; e aí, em plena existência, com a morte de mãos dadas, nos aconselhamos acerca do próximo passo a não dar (se o dermos, por mero engano, que consigamos pois retroceder), aquele arroubo a evitar, os equívocos a manter distantes. Imobilizados, não somos mais belos ou doces, com amor irrequieto eu o digo, mas restamos desinteressantes..., muito! Importa dilatar limites - da mente, do corpo, do viver.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vota neu...

É impressionante a ausência de compostura dos que tomam a si candidatar-se a cargo eletivo sem um mínimo de condições intelectuais, como se suficientes ideais que nem eles sabem como expressar convenientemente, reduzidos a seu arcabouço mental de condição tão sofrível, e de uma expressão social extremamente duvidosa. Afinal, que motiva essas pessoas a tal atitude, a esse destemor? Ora, talvez seja a chance de aparecer, de poder tirar proveito, vantagem; quiçá, haja até gente séria e de bons propósitos... No entanto, certamente acredito que o motivo maior assenta-se no fato lastimável de cidadãos honestos, preparados e competentes, não terem a necessária sensibilidade para doar-se ao bem coletivo, público! A omissão evita os excessos, mas pode ser fatal em política...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Dificuldade

Como é difícil fazer que fiquem lá atrás das letras as emoções que as convocam à tela da existência pública, organizadas a formar os vocábulos, as frases, e os períodos. Quisera eu, no entanto, que se organizassem assim para mostrar ou ser escudo dos sentimentos evocantes? A verdade é que de nada adianta a ponderação acima feita, posto que nem as letras, nem o que sinto, prestam-se a tanto; elas se abrem em sua articulação e a pulsação sabe aproveitar-se muito bem de cada chance de ser reconhecida; e sabiamente, aliás! Misturam-se elas, mesclam-se, mostram-se com tênue singeleza, põem-se na penumbra do mistério com ardido alarde. Portanto, inútil os esforços, todos, dado que sinais e sentidos mancumunam-se para que a vida, seja possível, à vida, que não cessa de ser...!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Po e sia

o sol lateja ainda forte
frente às almas cansadas
a ansiar por outra vida
aqui bem menos sofrida
mas amena mais amiga
almas decentes descrentes
da grandeza que se esconde
à espera da surpresa
de ser então descoberta
por quem não faz menor caso
do seu verdadeiro espanto
por não se reverter logo
o sentido de sua dor

domingo, 24 de agosto de 2008

Diá logo s

- Queria apenas um tantinho assim da atenção que te dou.
- E eu não te dou atenção nenhuma não?
- Não, não dá nada; não tem tempo ou interesse, eu sei lá!
- É que eu...
- Olha aqui: você sente alguma coisa por mim ou não?
- Claro que eu sinto.
- Não minta! Você sente é "muito".
- Você falando assim até parece que...
- É, cansei, e eu desisto! Não há como, não há!!!
[ele sabia só agora em que espécie de labirinto se metera]
- Tenha paciência comigo, vai; um pouco só, ahn?
- Meu Deus, mas como eu sou burro; sou um verdadeiro burro!
- Sinto muito...

sábado, 23 de agosto de 2008

Fra g mento

Fora linda, culta, de boa família, de posses bem consideráveis; freqüentara tantas festas, nas quais reinara admirada, e até invejada, alegre..., ao menos, por fora, muito alegre, o que não correspondia, e isso já nos bons dias de sua juventude, à melancolia interior e àquela maldita solidão, que só fizeram acompanhá-la como uma tatuagem, fixada ali no corpo, e grudada na existência. Quantas chances desperdiçadas! Tantos foram os “nãos”, os adiamentos, e as incertezas, sempre ladeados por aquele sorriso que encantava, pelo brilho daqueles olhinhos tão vivos. A realidade da vida levara tudo em conta, como sempre faz. Ainda só – o marido falecido há anos e os filhos distantes – aguardava a auxiliar de enfermagem para mais uma injeção; não o sabia ela, mas seria, sim, a última...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A caverna e a muralha 2

Ora, o que nos dizem tais reflexões? Que é melhor caverna do que muralha, com todas as suas implicações! Às vezes, temos que nos recolher, o que é muito natural, à autopreservação, reorganização de forças, agrupamento de energias, e, na caverna, temos tudo de que necessitamos ao inteiro dispor para tal fim, num ambiente altamente propício, convidativo, acolhedor, cabendo trazer outros a estar conosco em e na busca de paz. O que acontece com relação à muralha? Ela se presta aos que se defendem da vida..., lamentavelmente, mas que, independentemente disso, continuam a viver e a sofrer suas vicissitudes, apesar de cadaverizados! Como há quem ainda não perceba uma realidade crua com esta em si? Claro está que apenas cada um traz consigo, e em si, sua resposta...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A caverna e a muralha 1

Apesar de a princípio algo semelhantes em sua funcionalidade, claro que nalguns poucos pontos específicos, era enorme a diferença existente entre a caverna e a muralha, chegando a verdadeira oposição. Na primeira, o ser humano encontrou o abrigo natural, mesmo aberta; na segunda, uma segurança artificial, ainda que fechada. Uma era uterina e nela cabia um universo inteiro; a outra era mera barreira exterior e o fio divisor ilusório da mesmíssima estupidez. Duma evoluiu-se à aldeia; a outra foi um dos frutos podres que a cidade legou a todos nós, os membros da urbanidade. Uma delas, única; a outra a se reproduzir. A caverna indestrutível, íntegra, coesa, e a muralha eternamente frágil, permeável, vazada. Numa, a vida a brotar solta e a arte; noutra, a morte pela imobilidade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

De-cisão

Nem sei como qualificar o ato de decidir alguém fazer isso ou aquilo, fazer ou deixar de fazer alguma coisa; isso porque nunca saberá quem decide o que aconteceria no dia seguinte se outra a escolha, se diversa a decisão tomada. Não há garantia mínima de acerto! Não existe a certeza do melhor caminho a seguir, e nada se poderá aferir a respeito duma opção não adotada. Ora, no dia seguinte apenas não, mas também semana, mês, ano... Que força é essa das 'cisões de' rumos que nos vemos forçados pelas circunstâncias da vida a realizar? Sim, sejamos nós prudentes, mas ficaremos sem saber, e muitas vezes a volta a um status quo ante não se apresenta nem será possível. O risco, o traço leve e fino, aí está, e o rabisco mal feito e muito feio também. Boa sorte!...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Canções

Ouvia hoje no rádio uma canção lindíssima - letra e melodia, e interpretação, fascinantes -, capaz de envolver e de fazer ir tão longe, tão distante... Pensei na canção, nas canções dos dias atuais, nos sentimentos que motivam sua criação, todo o sentido, os sentidos despertados, emoções que se sobrepõem, sobrepujam, evidenciando o trágico e o impossível do amor. Até, e ainda mais, agora vale aprender os amores impossíveis a fazer, dando-lhes chance se sobreviver, de vingar. Por que não? Tudo já é tão relativo e parcial, mesmo que não se queira assim; a gente já abre mão de tantas coisas... Nem um pouco de vida a cores, as cores vivas e vibrantes num momento que seja? Não importa, não se contam, não se cantam canções natimortas. Melhor o que vem sem ter ido!...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Po e sia

poder tão pouco
dizer quase nada
ficar a esperar
tanta coisa e tanto
contar sem o tempo
beijos fugidios
na falta de alento
abraços curtos
mãos a buscar
sentimentos crus
pés a correr
a corações nus
desejar e só

domingo, 17 de agosto de 2008

Fra g mento

[cont.] Puderam ter seu corpo lindo, macio, a sua sexualidade sem freio, mas em tempo algum passaram ali da sala, nem imaginaram um corredor que os poderia ter levado a algum dos quartos, e, mais, à suíte onde sua alma inteira se revelava em humanidade inigualável – essa sim o tesouro que homem não tocara, apto como homem em toda a sua expressão. Mantinha um afeto frouxo por quem desse modo decidira estar com ela. Dois bagaços, um ao lado do outro, só isso. Ela descobrira, já casada, pela primeira vez, que não poderia engravidar, pena de morrer; condenada em vida à morte do que mais desejava. Não se tratava de adotar: tinha que trazer no corpo, nutrir, dar à luz!!! Ou fora de si, ao invés de chorar em amargura, sorrir tonta com aquele incômodo lá dentro...

sábado, 16 de agosto de 2008

Fra g mento

Ela era tida por dada, solta, fácil; bastava um gole, um só, e tudo girava, e girava ao seu redor, fazendo dos homens uns loucos, estufados de espanto e de prazer. Bendito vermute - doce, rosado, capaz de tirar a seriedade e a roupa, de pôr para fora partes de corpos, de fazer os escândalos parecerem atitudes até aceitáveis. Vergonha? Que vergonha, que pudor? Ela trazia sua verdade consigo, mas não a expunha; o que dava era sua mentira, a mais verdadeira de suas mentiras, cujo verso fazia sim a maior questão de ocultar. Sofrimentos às vezes estão ao alcance da mão por trás de sorrisos; não se necessita procurar longe! Mais de uma vez ocorrera de seus amigos a terem para uma fugidia posse, ou até para um pouco mais. No entanto, jamais dela se adonaram... [cont.]

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Pesos diversos e medidas incertas

Você se sentiria bem, confortável, se soubesse que, como ser humano, você é considerado pelo outro de uma maneira diferente dos demais que com ele se dão? Não é difícil de entender, e até de algum modo se justifica isso em relações pareadas – formais, informais; profissionais, pessoais. Mas digo dentro das pessoais, por exemplo, haver uma divisão. Você admite classes de amigos? Ora, se não se é um mero desconhecido, ou um amor, o que se é, senão amigo, ou mais um conhecido qualquer, um colega? O amigo pode ser quase um irmão e continua amigo. Um status para amigos classe A e outro para B acha-se respaldado por qual idéia? Complicado, e muito, lidar com isso, ainda mais se se está justo no grupo classificado como B. Melhor, então, não ser nada, não é? É...!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Prudência

Entre muitos, prudência (prudentia), ao invés de virtude que deveríamos todos cultivar, parece ser ainda, lamentavelmente, o vício abjeto dos que, sem apego mínimo à arte de decidir acertadamente, com discernimento, assevera Jean Lauand assim, mais se afinam à gente apalermada que disso se vale para errar, sem nada conjeturar direito, e caso decidam algo, que seja observar, adiar, desistir, não tomar as decisões necessárias, prementes, as quais, com ironia, deixam a cargo e ao talante dos que rotulam de ousados, em sua ignorância, por sinal das mais pueris! Receio, dúvida, insegurança, e tudo o que se pareça com isso, nada tem de prudência; prudente é a atitude de ir, fazer, criar, enfim, de decidir não de forma atabalhoada, claro, mas nos limites mais extremos do possível.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ah, se...

O pior dos arrependimentos, sabidamente (na verdade, creio, o único realmente importante) é o do que não se fez! “Ah, se...” – tudo começa assim, e vai abaixo, simplesmente se perde, sem um retorno possível, tantas vezes, e jamais da mesma forma. A passagem do tempo é muito útil quando, ao invés de nos sedimentar no acovardamento aparentemente prudente (num sentido falso, do tal do obtuso do senso comum), prudentemente (num sentido anterior, conseqüente) nos encaminha aos riscos que não podemos mais deixar de correr, sob o peso ameaçador de tudo então correr, e bem, contra nós, e pendermos daí na vida, sem entender coisa alguma, tomados por aquela tristeza, insinuante febrícola, dos que acham que, enfim, já sabem tudo e, na verdade, nada...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pouso

Para que uma aeronave pouse, além de todo o aparato hoje disponível, por piores as condições climáticas, uma coisa é fundamental: que se enxergue em dado momento a pista; sem isso, só um louco poria o avião a tocar às cegas o solo. Ora, e se nada se vê? Arremete-se, faz-se nova aproximação, tenta-se de novo. Ou toma-se o rumo de outro aeroporto, posto que o combustível não dura para sempre! Assim na vida. Vai-se muitas vezes guiado "por instrumentos", pela voz orientadora do controlador, até a entrada no cone descendente, quando se abre a janela para poder aterrisar. E se a pista não é vista? Aí, sem terra firme, não há o que presumir, pois nada mais se sustenta, à exceção das asas daquele que tenta novamente, enquanto for isso possível, antes de seguir num rumo diverso!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Po e sia

Amarga e arresta
ante a doçura sua
a sutil indiferença
finda tosca fantasia
presença a jazer imóvel
na boca que seca fria
dá palavras já sem cor
e os olhos antes vivos
hoje refletem tão-só
a pena que sinto a dó
dos nãos a me exasperar
a embasbacada triste
e desprezada dor

domingo, 10 de agosto de 2008

Fra g mento

Coitada! Ele mudara-se para a casa da frente há dois anos; ela ali na vila a espiá-lo todos os dias, sempre à espera de falar, dizer qualquer coisa, dar-lhe um encontrão. Tudo preenchia e fazia transbordar seus quereres, pensamentos afoitos, ares de coração disparado. Mas o tempo é cruel e implacável! Nada dera certo. Dia após dia, semanas, meses a fio, os esforços teimavam inúteis, como a frágil vida de ânsias, abundantes emoções, sentimentos enrijecidos e amores sem exercício. O sentido perdera-se, porque, apavorada, viu um dia que ele estava a se mudar! Não suportou e decidiu mudar... de mundo. A tragédia selaria agonias, pensou. Silêncio quebrado pelo telefone a tocar. Seria ele??? Atendeu com o fiapo de força dos suicidas moribundos. Coitada mesmo! Era engano...

sábado, 9 de agosto de 2008

Diá logo s

- Eu te amo!
- Você não sabe o que diz...
- Sei bem sim e te amo muito!
- Eu poderia me aproveitar disso, sabia? Mas não vou não.
- E por quê?
- Até parece; porque eu não sou canalha!
- Vou ser mais uma amiga, então? Só isso?
- Uma amiga muito especial; é assim que vou te amar...
- Amar?
- Claro! Por que não? Que espanto é esse?
- É que eu pensei que...
- Não importa mais nada agora.
[Muitos jamais se abraçaram com semelhante ternura]

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Nada

Certamente, não acontecerá nada! Mas como saber disso com tamanha convicção? Ora, há coisas que nunca teremos, jamais ocorrerão, e em tempo algum passarão sequer perto de nós, por mais que tanto as queiremos, ainda que ardentemente as desejemos... Pode-se implorar; o resultado será: nada! Melhor deixar e dar atenção ao que vem, se aproxima, chega, está aí. Perdemos, afinal, o quê? Não se tem como saber o que perdemos (ou deixamos de ganhar). Malditas dúvidas, eternas ignorâncias, ruinosas lacunas cuja finalidade é assim. Depois ainda um engraçadinho tem o desplante de perguntar acerca do sentimento de felicidade. De que modo?, cabe retrucar, do alto da sabedoria dos que estão acostumados ao nada, sem revolta, apenas continuando a buscar mais além, para sempre.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Leviandade?

Como nos é fácil apontar a leviandade no que vemos bem ali adiante, pertinho, no outro que fazemos toda a questão de ignorar ser um espelho, a tela fria na qual ao simples olhar estamos a passar com nossas histórias, vividas ou não. O que vai pelo íntimo de cada um, isso ninguém tem muito interesse em saber; antes a precipitação, o rótulo, a falsa noção que apazigua a nos mesmos. Vê-se maldade onde não há e vice-versa; basta para tanto o descuido de sempre, já habitual. Somos os levianos que tememos ser e que enxergamos fora, além do corpo que carregamos e que leva junto nossa subjetividade. Somos a maldade de nossos olhos e língua, a qual colocamos à disposição de afetos e desafetos por igual. Somos bons até? E quando aprenderemos a ser verdadeiros?...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Onde dói?

Dói bem lá no fundo do ser ficar no limite último do precipício das acontecências, onde elas não são e são, no justo instante que não se vai ter nas mãos jamais, com tempo para pensar a respeito. Entre lançar-se e o desistir, que escolha? Não há o que escolher; nada! A gente se lança no turbilhão desconhecido do prestes a atuar ou fica bordado na borda, sem a-bordar - a desistência não é uma opção de sobreviventes. Feliz do vento, que simplesmente venta, com maior ou menor intensidade, da brisa ao tornado, e chegando ao furacão. Mesmo assim, não é sempre, porque a calmaria também possui a sua vez; e esta, mais que ausência, faz presente a lembrança e o anseio pela mais simples e rudimentar das aragens. A dor de perder-se não dói. Mera impressão, nada mais, ela logo desaparece...!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Olha a carteira!

Um cidadão dito cego e assim bem atestado por médico perito teimou em conduzir seu veículo até banco, onde foi detido por policiais federais ao contar junto ao caixa eletrônico as cédulas de seu benefício previdenciário. Ah, Brasil! Quanto estelionato nessa terra; e tudo o mais! Um velho e querido professor meu dizia que "fora os pais de vocês [ali de nossa turma], rico no Brasil é um estelionatário bem sucedido, não apanhado". Como não lhe dar razão ainda hoje?... Que dificuldade em erradicar esse mau odor cultural de que não há problema algum em seja quem for se pôr a aplicar qualquer golpe contra os outros, ou pessoalmente ou via Estado! Pois a vergonha está oculta e a honra desapareceu e ambas ainda não foram localizadas. Que sina: conviver com a punga oficiosa e com a subtração oficial!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Po e sia

as linhas da vida presente
no fio do tempo nos mostram
para além do reles comum
algo insuspeito e invulgar
um rastro de algum valor
cheiro bom da novidade
verdadeira o justo achado
oportunidade vez por outra
de re-novar o quase em tudo
e encontrar aqui o futuro
que represente lá o já dado
aquilo que só resta ausente
no fruto que vinga passado

domingo, 3 de agosto de 2008

Fra g mento

Ele vivia, e para sempre em sua cabeça, em função dela, a lhe fazer vontades, todas, a atender seus caprichos "infantilóides", cumprindo bem o funesto papel de servil, de burro mesmo. Mas era um gozo todo seu; bom para ele, melhor ainda para ela. As lembranças da outra se esmaeciam. Que pena! Tão linda (a outra, óbvio!), havia sido renegada e deixada por ele naquele doloroso "ora veja só", apaixonado por sua senhora implacável, cruel. Mas não havia comparação! Era o típico caso de erro de mira. Ele que tanto queria ser feliz, talvez mais fazer a outros (a ela) feliz, como missão insondável a cumprir pena de terríveis sofrimentos, que se encarregaria de infligir-se, mal sabia em que toca se metia... Tem gente que é assim: só aprende de fato apanhando, e nem que seja de si!

sábado, 2 de agosto de 2008

Diá logo s

- Babão! Não se enxerga, é?
- Além de não babar, se babasse não seria por você, sua tola!
- Grosso mesmo...
- Eu?!
- É, você; e aproveita, vê se me larga.
- Largar? Solta você do meu braço! Aliás, pensando bem, vem cá, vem... Por que você não se dá uma chance, só uma?
- Chance nada, inconveniente! Procure alguém de sua idade!!!
- Que seja! Mas você acha que daí, desta sua juventude de solidão e sem rumo, você vai muito longe, minha querida?
Ao beijo seguiu-se o tapa, e o outro beijo valeu, valeu tudo!
- Pára já com isso!!!
- Só paro se você me ensinar como...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Egoísmo

Tem gente que sabe e não informa, não diz nada, enquanto o outro fica sob seu olhar de inanimado a se debater; quem tem e não divide o que lhe sobra, o que vai ficar num canto só para pegar pó e abrigar traças, ou até para o lixo; os que cuidam razoavelmente do seu, mas não ligam a mínima quando é o dos outros que lhes é confiado, deixando a coisa entregue a um “se acontecer, que se dane” (com o do outro e o outro, é claro, seja pai, mãe, irmãos, etc.). São planos bem guardados, idéias de cofre inexpugnável, vidas recolhidas e para escolhidos, poucos, seletos (qual o critério? Beleza, dinheiro, nome de família?) que sabem de e algo mais obtém, apenas; algum favor, diria. O egoísmo - lado obscuro (versão suja) dos afetos -, conduz a uma espécie de buraco negro...