terça-feira, 29 de abril de 2008

"Vidícula"

Por que não vivo uma vida de loucuras, de doidices reais, até simpáticas, concretas? Porque, sempre que certinho, mais torto, sempre que bonzinho, mais desastroso, e sempre, até não me suportar e (Deus me livre disso!) não ser suportado... Será daí assim? Para que serve uma vida ridícula, uma vidinha de nada, "vidícula"? Tanta coisa obtida e tantas perdidas, postas de lado, pelos caminhos que mal trilhei, às pressas e por vezes devagar demais, desatento e arrastado por um emaranhado de pontas, dos processos inacabados, de uns pensamentos mancos, daquelas fantasias rotas, muitas delas antes de um brilho que atraía como que por encanto! Onde está o veio da pureza na mais natural manifestação viva da humanidade, com todos os seus erros, ais, e percalços? Onde?

sábado, 26 de abril de 2008

Só!...

É invariavel: nasce-se, vive-se, e morre-se absolutamente só, por mais que um ser humano venha a cercar-se de pessoas e de coisas. Sobram, tão-somente, como fiéis, constantes e eternas companheiras, as reminiscências, nada mais. Ora, aí há solidão ou solitude? Depende de tantos fatores... Pouco importa afinal! Sem nada e sem ninguém, cabe o sujeito voltar-se para si e para o mundo. Para si e sua verdade, para o mundo e sua realidade. Ficam, é certo, a pairar, suas palavras, seus ideais, seus sustos, diários, vespertinos, e noturnos; mas, nas madrugadas da existência, não se permite errar sem pagar um elevado preço - tudo parece desaparecer em instante único e cabal. Anda bem com-um-sigo o mesmo, porque não acontecerá de um outro, qualquer que ele seja!...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Enamoramento

Por que não nos enamoramos? Os franceses até chamam isso de "amizade amorosa", e já houve quem por aqui há tempo quisesse "colorir" a amizade. Com o quê? Sexo?... Por que a casca não é rompida? Por que, se há vazio, resta o carinho esparramado pelo chão frio? Relação "a dois"? Deus está vendo! Vê, e você também o sabe; confesse: o sonho, o pensamento, o olhar, aquele tremor, a doce palpitação, a ansiedade, a fantasia, o desejo. E nós não nos enamoramos...! Por medo? Vergonha? Teimosia? Busca-se o grande amor, o da e para a vida toda (quimera!), e restamos nessa pequena morte infeliz e fétida de irrealizações crônicas, repetitivas, secas. Depois se fala por todo lado de felicidade. Onde ela estaria? Hein? Vamos nos enamorar! Não faltará um valor renegado: a compreensão.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Para bens

Não, nada disso! Disse a você que eles não viriam, e, de fato, estamos sós; mas fique tranqüila, menina, pois passarei seu aniversário com você, bem aqui no escuro, distante, ermo, mesmo sem presentes e homenagens, luz, som, gente de toda a sorte (ou azar!), a imprensa... Por que a revolta (e você sempre foi tão inutilmente revoltada, não é?), minha linda pequena? Linda, sim! Mesmo seu corpinho esquálido, sujo, sem sorriso, cabelo ruim, roupas quais farrapos, eu a vejo linda, apesar dos olhos fixos, arregalados, onde antes, só neles e em sua mania de nunca deixar de brincar, um pouco, às vezes, sonhando, havia radiante luz - a vida. Mataram você, não sua memória; ignoram-na e eu a faço lembrar. Uma amiga a chama para seguir caminho? Vá agora, meu amor!...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Corpo

Tantas vezes, e hoje mais que nunca, o corpo importa mais - trabalhado, enfeitado, exposto, dado, maltratado, recolhido, esculpido, retalhado, usado, inutilizado, não importa; de fato, ele não importa, e sim o que ele representa. O corpo em si é para quem possui o encargo de ser nele. Para os outros, num amplíssimo leque, tudo o que ele venha a representar, tudo o que se busque (e daí se encontre, Deus queira!) nele. O que "emana" do corpo, de uma parte dele, que nele não está, mas que atrai e aprisiona? Uma vibração, o calor, o cheiro..., até a voz, o olhar, ou, talvez, um algo de sua disposição indefinível? Por isso, sem enganos, o corpo não importa, nem o que sobre ele incide; o que parece bonito, estético, sensual, sexual (ora, nada contra), (a)parece, apenas, e não está nele!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Fragmento de ficção

Não sei se você lerá isso; vou confiar na intuição de que sim, de que também esse desejo não poderei impedir de aflorar e alcançará bom termo. Quem sabe... Mesmo assim, aí está: nossos dizeres, sejam quais forem, devem ser ditos, ouvidos, atados, trançados e conseqüentes; não há razão para represar tudo o que nos vem à boca, se vem, e acredito que com força e docura vem, para o bem, para aclarar e dar cor. Você não? Estou a me perder num sonho, em fantasia imotivada? Pode até ser; e, se for, então me diga. Deixar de dizer afasta, reprime, recusa, põe abaixo aquilo que, sem dúvida, ao próprio dizente traz paz, dá serenidade. Nós seres humanos, tão complicados, nos esquecemos de nos acalentar e aquecer com amores, amizades, enamoramentos; optamos por calar...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Po e sia

dá a beijos essa boca sua meus
os lábios doces a tocar pôr ter
pressionar deslisar voltar a seus
até sua língua a minha na saliva
suave envolta em cada arfada
do ar que dá mais vida a nossos
corpos vinculados quase nada
vem ao pensamento uns possos
eu preciso o não agüento mais
quero dizer faço uns sussurros
tocantes toques ais simultâneos
loucos roucos de olhares puros
momento intenso de úmida luz