sábado, 6 de dezembro de 2008

Ex tra s

"Acontece e só", foi dito.O porto não exalava mais seu cheiro característico, atraente para uns e enjoativo a outros. Naquela tarde estivéramos juntos e, sem o saber, pela última vez. Viajaria para casa e lá voltaríamos a nos encontrar em dois meses, tempo apenas o suficiente para arrumar tudo, "arreglar la vida", e seguir ao novo, rumo a um amor que sempre sonhara viver, desde que me entendera por gente.Ela chegara assim e eu passava por lá. Havíamos nos dado bem, no acaso, como que por uma quimera, diria, e a realidade se transpusera em sonho... Realidade ou sonho? Ah, se eu pudesse escolher! Mil vezes o sonho, sonhar pela eternidade, viver por sobre as nuvens que ameaçam, que encobrem e sombreiam a realidade, que a inundam de tempestades a formar torrentes ou somem e a deixam esturricar à morte.O sol afundava célere para o horizonte e a embarcação logo iria partir; manobraria e lenta seguiria a singrar mar afora as ondas. Também meu coração se afogava nas que passavam, de emoção em emoção, vagalhões sobre um intelecto aturdido e sem função ali.Estava lá a acenar. Não! Como pensar em adeus? Nunca. Aquele sorriso indescritível lançara ferros em meu peito e meu corpo jazia entorpecido sob seu impacto derradeiro, em todos os sentidos, força definitiva que até então ignorava...O ataque fora já em águas internacionais; o alvo, equivocado; os erros (des)humanos... Manobras. Do navio que parte, da belicosidade obtusa, da desatenção, daquele portento que agora soçobra, inúteis e inúteis, da impotência que naufraga por ter que lançar fora as ilusões que me haviam tanto encantado, me alimentado mesmo, e que me faziam suportar, importar, transportar...O porto - o ponto de partida... e final.

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