domingo, 28 de setembro de 2008

Fra g mento (+1)

Chegou até a janela e olhou. Fechada, dado o frio que fazia, já noite alta, a luz da sala acesa, viu seu próprio rosto ali refletido. A rua praticamente vazia, no prédio em frente uns poucos apartamentos a aparentar gente como ele, acordada; a maioria a dormir, alheia a tudo. Felizes, estes adormecidos, ou estes insones infelizes por serem assim? Não sabia, não imaginava sequer! Lembrou-se de uma canção popular, cuja letra, no entanto, lhe faltava completar. Não, não ousaria cantarolá-la senão mentalmente... Que saudade de outros tempos, de outros locais, de outras pessoas. Ora, por que não poderia, ainda em tempo, despojar-se, despir-se, dejetar-se, com toda a sua ânsia de vida; contida, sim, represada; mas, por que não? Que se danasse tudo! A lágrima, uma só, corria de seu olho esquerdo, fria. Antes que fosse longe, enxugou-a.

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