terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ex tra s

Faltou-lhe sempre tempo... Era como se essa “mercadoria” lhe escapasse dedos afora ao passar todas as vezes pelas mãos agora enrugadas. Não tivera tempo de ganhar dinheiro, de amar, de ter a família que almejara um dia, de divertir-se ao menos. Em todo tempo disponível que tivera, sonhara. Isso mesmo: sonhara! A carreira brilhante, os estudos contínuos, o exercício da profissão, ser procurado e admirado por muitos; a mulher divina e a um tempo demoníaca, que tanto o encantava sedutora ao esgotá-lo quanto lhe trazia o carinho doce e meigo, do sexo mais febril e do sono tão sereno; os filhos, os netos, uma construção viva, a extensão de si; perder-se afinal em tanto céu, tantos mares, nas trilhas das matas, na força indomável das cachoeiras - tudo sonho!!! Sonhara, como nós agora o fazemos, tão-somente sonhara, o que é muito bom... Mas deixara o melhor escoar, a realização ficara impossibilitada na ausência minutal do fazer; do tentar. Agora, para nada mesmo, com certeza absoluta, tinha todo o tempo do mundo, e também do outro, ao dispor, ao seu inteiro dispor. Sonharia, ainda, mas não mais, sob o efeito deletério e irascível do tempo, acordado.

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