segunda-feira, 30 de junho de 2008

Po e sia 8

sem teu olhar
sem teu toque
sem teu sorriso
sem teu calor
sem tua idéia
sem tua vontade
sem tua lágrima
sem teus carinhos
sem teus dedinhos
sem tuas manhas
sem tuas senhas
sem tuas sanhas
sem qualquer sentido

domingo, 29 de junho de 2008

Por que não ficção?

Aqueles olhos negros, vivos, radiantes, roçavam os dele, que, do todo, um pouco percebia. Embevecidos, atentos, com aquela agilidade, falavam bem mais alto que a boca de lábios tão róseos e perfeitos, que ele daria a vida para tocar com os dele, e beijar como se ali se fixasse a eternidade, num só momento de magia abraçada à realidade. Seus cabelos, suas mãos, sua pele, e o que não há como nomear senão de modo direto, sua alma, o aprisionavam na liberdade de lançar-se nos braços do que possuia a certeza de sentir como seu motivo de ser e querer para com ela repartir, dela recebendo o mesmo. Tanta coisa entre eles a construir e sendo de fato construído, passo a passo, um de cada vez, um de cada um; ele sem pensar tanto, ela mais cautelosa, e mesmo assim a se unirem.

sábado, 28 de junho de 2008

?

Existem elos, fios, forças, energias, algo qualquer, mas umas ligações a nos tomar; melhor, nas quais nos tomamos e tornamos em relação. Como é difícil chegar a uma explicação minimamente razoável disso! No entanto, existem sim, acontecem sem pedir licença, fora do mais comum, do reles comezinho, algo verdadeiramente singular, distinto, além da moral e da razão, que não nos aliena se for para bem, se não despacharmos, com ou sem negativas, se acolhermos como e na forma que seja possível tal, digamos assim à falta de outro termo, motivação. Ah, os momentos que dispensamos a esmo, quantos, até que chegamos a atuar, tendo por suporte agudo a combalida palavra que nos custa tanto dizer, a abir esses nossos lábios tão arredios e temerosos em um puro encanto...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Medão

Ninguém alega estar possuído, vai lá se saber o motivo disso, por "um medinho de nada"; não, medo que é medo mesmo, de verdade, é "medão", "um medo danado", quando não, ao menos, "tanto medo...". Coisa apavorante, que assombra, é não ter alguém medo de nada! Não se trata de coragem, reste claro, mas de ausência a mais completa de medo. Por outro lado, há quem tema até temer. Acredite-se ou não nos destemidos, os medrosos temem especificamente que coisa ou coisas? Medos são delimitados, e há focos nítidos! O que interessa afirmar é que o pior dos medos é o de que algo bom dê certo - medo de vencer, de ser bem-sucedido, de amar e de ser também amado, de viver! O medo da vida corre sequioso com o temente à cata da finitude; somente deste...

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ponto-de-vista

Que vejo? Um ponto-de-vista, uma vista do ponto tonto dado, quanto cegos são meus pontos-sem-vista; pontos mais de interrogação que de exclamação, pontos a esperar, pontos e vírgulas sem finais a atrapalhar; reticências; alguns parágrafos sem culpa, e nada a desculpar também nos períodos. Vistas turvas por um ponto. Alguns dos meus pontos-de-vista são de vida, outros entorpecidos. Por vezes, uns pontos desses são de ím-par tortuosidade, em que só eu pareço entender daí o que os tais expressam e com isso me querem dizer: dizem de tudo, de nada, de morte a-guardada, de de-seja-r. Que vejo, então? Se-ja! Vejo até o que não quero insistir e insistir mais a voltar, assim num ponto pronto. Pronto prá vista; vasta vi-são vencida da lenda vastidão essencial, de tanto ima-ginária.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Medida

À medida que o inexorável curso do tempo nos conduz, e não mais podemos deixar de sentir os seus efeitos, alguns até bastante salutares, surge o desafio ao qual um enfrentamento digno se impõe: para que lado dirigir, prioritariamente, o olhar? Claro que são duas as opções. Alguns, já desde moços, olham muito mais no sentido do passado, fixam-se tanto nele que envelhecem enquanto adultos com muito caminho à frente; outros, bem mais ao futuro o lançam, ao que há a fazer, e, embora avance a cronologia, chegam a remoçar. Com efeito, caso não se estabeleça o que realizar, nem que seja o absolutamente nada a curto prazo antes de voltar à carga, sem os projetos bem formados e adequados, perde-se enfim a medida, e nos tornamos apenas seres (des)medidos...

terça-feira, 24 de junho de 2008

In-de-pendente-mente

Nada importa! Por entre os formalismos todos, o intrincado e os costumes, nos vãos dos sins e dos nãos, na costura do Outro em nós, dos outros, também, e das suas contingências, há uma invisível substância, não-detectável, que nos amalgama, que atravessa, une numa rede demonstrável num simples e denso bem-querer, forte, elástico, atraente. Não há distância, temporalidade, desvivências e venturices a nos indispor quanto a esse carinho construtivo, formado de tantas e das tão maravilhosas lembranças e sensações re-colhidas. Se nos fora possível reordenar a existência no mundo, quem sabe não a faríamos perfeita, menos econômica, bem mais amorosa e pacífica, com a liberdade ecoante de que nos ressentimos haver não assumido, na sua assaz doce plenitude de valor...!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Po e sia 7

nada a fazer ou pedir
muito menos até
a implorar daí vir
há o que não se pede
só se pode receber
quando chega é alegria
mas cabe reconhecer
não é para todo dia
nem para exagerar
quando dá de acontecer
ninguém de fato impede
não tem hora dia ou mês
às vezes passa de vez

domingo, 22 de junho de 2008

Beijo

Como em Casablanca: you must remeber this, a kiss is still a kiss, a sight is just a sight; the fundamental things apply as time goes by. O beijo ainda rivaliza com o abraço, o aperto de mão e o simples toque. Não obstante, na boca ou não, ele fala e dá função rica aos lábios, marcando a parte do corpo do outro em que é depositado. Se já prestou para trair (mais do que se imagina até), muito mais uniu e permaneceu na separação quando tudo se havia esmaecido. Daí a importância do beijo, o qual abarca todos os seus rivais! Sua fala é de amor em amplo espectro, larga dimensão e profunda carga. Traços de pudor covarde e de crua fraqueza afetiva põem o beijo fora da experiência cotidiana. Por que não fazer tal qual no filme e pedir com toda singeleza ao pianista: play it, Sam!

sábado, 21 de junho de 2008

Ensino-aprendizagem

A correlação parece clara, tal qual sua ordem, e, como tudo o que é assim tão claro vive a suscitar dúvidas tenazes, advém logo o erro, que se quer então sanar do seguinte modo, com a pergunta direta: onde colocar a ênfase, no ensino, ou na aprendizagem? O modismo não dá tréguas - agora, cabe valorizar a aprendizagem. Ledo engano! Há que manter-se sempre a tonicidade sobre o ensino; porque ou se vai daí dar suporte ao saber ou à ignorância. Se acaso o professor não ensina, que vão aprender os alunos? Requer-se o ato docente. Mas se ele ensina e os alunos não aprendem, reforça-se a toda a ignorância... Um professor ensina ao menos a um; em si, para ao menos um. Cem alunos não logram o ensino de um docente sequer. Aula e livro não acham, também, substitutos!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Resto(s)

Em suma, ou cimo, não fica (vide a postagem anterior) nada; ou melhor, deveria o nada estar aí, um saudável nada; e ele, afinal, surge, para a cura, apesar do resto - e sempre há restos com que con-viver... As sobras de vida ou morte nos orientam para uma e para outra, tal qual o nada (quem é ingênuo?), de onde se pode esperar tudo! Excluída de antemão a completude, a suplência, o que do lado de lá vinha a parecer o que do de cá não havia (mera ilusão infantil), pode-se encarar o que vier naturalmente, sem alien-ação, esse rabicho em que, engatados, nos pomos onde nunca deveríamos realmente estar. A dialética própria da existência humana dá aos sujeitos tantas possibilidades, mas, óbvio, desde que por eles comprendida, vale ben-dizer, no cerne da sua existência!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Insuportável

O tal jogo que ela faz, em conexão com o jogo no qual ele se permite gozar perdendo, é insuportável; ao menos para ele, se pretende que o azar do jogo, no qual só se perde mesmo, natural e absolutamente, não mais o acompanhe, marque, acabe por caracterizá-lo! Ela dá margem, e ele se chega; ela se afasta, ele fica perplexo, e também se retrai; ela cobra a sua ausência, diz que ele a acha quando queira; ele agenda, e ela volta atrás, não se deixa achar. Não consegue ele lhe dizer o que quer, fazer o que quer, decidido a tanto (antes torcia para que tudo desse errado!), ela parece não querer ouvir, para poder continuar jogando e, assim, quem pode, ah, meu Deus!, suportar tal tensão? Um sai, ele, do jogo dele, e do dela. Ficará o que for do que bem poderia um dia ter sido...!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Continuação

...havia um núcleo assim relatado; ou seja, a missiva era um resumo de tudo aquilo: "Você, meu amor, sabia bem das dificuldades a enfrentar. Lembro do seu sorriso, seu olhar, seu mutismo; você fugia de me dizer o que tanto queria e eu ouvir. Mas o beijo foi aquele encontro que não se dava; eu o roubei, você levantou a mão, eu de fato a detive, mas era para um carinho. Caminhava tão bem nossa vivência, eu em você, e você em mim, até o dia em que ela nos viu. Eu não tive alternativa, preso a tantos compromissos. Ainda bem que deu certo o nosso plano! Ela nem percebeu. Você tinha razão, meu amor para sempre. Minha...". Enfartara. Agora então que ela se fora tinha-se idéia de que por alguma obscura razão ela guardara a carta. Achava que divulgar a história valeria?

terça-feira, 17 de junho de 2008

Mais frikçção

A carta, dobrada às pressas, assim também, qual manuscrita, enterrada no antigo e amarrotado envelope de bordas verde-amarelas, já tão esmaecidas, para o nosso espanto, os que a lemos, depois daqueles anos todos, inicialmente, ali na sala, à frente de crianças, que logo pedimos saíssem dali - uma das empregadas nos auxiliou nisso -, revelou toda a riqueza que alimentou e sustentou aqueles dois, apesar de tamanhas adversidades; a maior delas, que afinal tudo inibiu e estancou, ela, que fora anteriormente a amada, e logo inconformada, capaz de tenazes e vigorosas atitudes. Nossos ouvidos e meus olhos não poderiam sequer imaginar como aquela trama de amor, não acabada, ainda por iniciar-se, se encerrara daquela maneira assaz estúpida. Ora, o conteúdo deu a entender que...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Po e sia 6 (a você, Horácio)

a perda é amarga triste
dez-faz ilusões paixões
destrói sensações pias
faz alvorecer mais cedo
pega-nos sem um aviso
não dá notícias pios
revela a crueza o rigor
do dia-a-dia por isso
toda perda me acresce
faz mais velho adoece
cura e rejuvenesce
e aumenta-me o amor
flor que nunca fenece

domingo, 15 de junho de 2008

Pedaços...

De quantos pedaços somos formados? E quantas palavras nos constituem? Que pessoas acabam por gerar nosso todo? E há de qualquer maneira um todo? Não há espaços a nos compor e tempos a nos suprir? As pedras, as flores, os frutos, as árvores, os animais, a areia, a argila, o pó, o ar, mares, os entes naturais e os imaginários e os de que nem temos ciência é que nos dizem algo. Afinal, quem somos? Não somos! Estamos ainda sendo até que ainda na incompletude deixemos de sê-lo, e o sejamos, num sentido, quiçá ainda!, tenaz insegurança, final, se isso existe ou paira sobre. Coisas finais, redondas, quadradas, fechadas, permanecem em aberto. Passagem e trânsito contínuos. O que comemos, o que falamos, as omissões, as dimensões e... Não podemos nada!

sábado, 14 de junho de 2008

Des-entendimento

No leito de dor, murmurava à esposa dedicada e atenta: "mu, mu...", e nada mais; o dia inteiro, a noite toda! Irritada, ela soltou os cintos da reconhecidamente austera dignidade pessoal e, verbo duro, não teve dó de seus ouvidos sensíveis de enfermo. Recordando e resumindo toda aquela relação, e o histórico dele, contou que queria sua morte, viveria com seu sócio, seu dinheiro iria todo em sapatos e perfumes, e muitas sandices mais. Foi embora com um sonoro: "Seu desgraçado! Tá me chamando de vaca...". E ele se foi, também! Na manhã seguinte, o aviso e o desespero. No hospital, saber do suicídio não lhe trouxe abalo maior, mas sim verificar que ele, sem poder expressar-se direito, escrevera com sangue no lençol a singela e mal compreendida frase: “te aMO MUito”...!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Que fazer 2

...antes que aos outros, mas sem descartá-los, ouvindo-os; o interno, o que vem de dentro, e também o externo, alheio. Seja como for, algo retiramos para nós daí, mesmo sem prazer algum! Aí estamos em. Pois assim se dá: caso tomada a sério a atitude de procura duma melhor posição, que seja ela (e deve ser mesmo!) a de procurarar continuamente, pela simples ação, sabendo-se que não se vai encontrar, que não há; sem parar, sem totalidade, sem para sempre, sem modos, maneiras, nosso jeito e gosto e expectativas. Daremos graças por permanecer na continuidade deste agir, sem sucesso e justo então sendo bem-sucedidos! Querer segurança é ter os traços afinal da enfermidade do imobilismo dos que "alcançam" (hahahaha!) seus ideais. O sofrimento o confirma à saciedade!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Horácio

Primeiro Gregório, agora Horácio; que pena! Estou sim muito entristecido... Horácio honrou minha vida com a sua aqui em casa. De fato, orgulho-me imensamente dele. Augusto, o seu irmão, atacado por um infernal pitbull, ensandecido, treinado e da responsabilidade de um ser humano de bosta, acabou sendo salvo pelo destemido e audaz Horácio, afinal morto. O pitbull foi abatido por policiais civis. Cuspi nele, como o faço em quem prepara um homicida conscientemente. Aliás, que o tal logo vá, besta-fera, visitar seu anormal, sem demora, são meus efusivos e mais sinceros votos. Dócil, amigo, fiel, qual Gregório, Horácio terá enterrado seu corpo inerte, mas viverá nas minhas mais íntimas e felizes lembranças. Até, filhote amado! Esta é a vida real e há que dela se dar a devida conta.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Que fazer 1

Amiga muito querida, bonita, educada e inteligente, indaga se já pensei em escrever sobre pessoas que estão perdidas onde acham que se encontraram, seja no trabalho, amor, família, sociedade; diz ela que quando escolhemos ser algo que achamos tratar-se do melhor para nós, às vezes não é o que realmente queremos, ou nos propomos àquilo de que não precisamos... Ela tem razão em sua sinceridade. De um bom contingente de pessoas, ao menos das que suportam ser sujeitos livres das inibições em assumir estar fora de posição, numa condição indesejada, o que se tem é a declaração de sua inadequação e desconforto - a insuportabilidade de se saber objeto. Algo tão comum, portanto, que fazer? Começa-se por reconhecer isso e buscar entender, mas primeiro a si...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Um instante só...

Para ser feliz basta um instante e, de fato, por felicidade há que se ter, honestamente, tão-só esse instante único, e impressionante, que toma os sentidos pela mão e os conduz para mais perto de todos os doces ideais que figuram em nosso psiquismo. Disso cabe falar, mas sem a menor explicação, antes ou depois, tanto faz. Dar um nome? Claro! Reduzir a um esquema qualquer, jamais! Ora, assim ele pode ser reconhecido e permanecer amplo o suficiente para que se repita na diversidade, a integrar aquele repertório que vive a sorrir nas lembranças, nas recordações de meiguice, que carinhosamente acalentamos, enquanto, ansiosos, aguardamos pelo próximo instante. Algo vem unir, amalgamar, e fazer indissociáveis esses momentos. A vida vale, por isso, muito!...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Po e sia 5

por que não esperamos
e nascemos juntos
dando-nos mãos beijos
tão insanos quanto sãos
enlouquecidos ternos
para sempre eternos
nunca jamais vãos
em meio a dons festejos
por tantos lugarejos
megalópoles e vilas
nas cidades infinitas
braços dados con-juntos
lá onde não erramos

domingo, 8 de junho de 2008

Quer?

Quer mesmo saber? Então pergunte. Caso não o faça, como saberá? Talvez nunca! E o tempo passa muito depressa em condições assim. Quando se vai, aí já se foi. Fica apenas a lembrança do aberto para sempre, a resposta impossível, mais uma ferida que não cicratizará. Com efeito, isso se aplica em muitas outras situações da vida. Para saber a reação, aja! É tão simples, tão banal. Você paga o preço da volta, do retorno, ou o teme? O medo lhe fará companhia, imóvel como você, reclinado em seu ombro enrijecido daí. Se quiser ver, abra os olhos, e bem; turvada a visão, o jeito é lavar o rosto de novo e focar com coragem o que se apresenta. E para sentir há que se permitir fazer-se coisa doada ao sentido que vem em sua direção, aceitar a vontade que não lhe pertence...

sábado, 7 de junho de 2008

Tocar

Tem gente que pede educadamente desculpas, outros sorriem assim sem graça, e alguns fingem que nada aconteceu; talvez até alguém louco se apaixone..., ante um fulminante olhar ou tantas outras reações semelhantes quando acontece ele, nosso companheiro quase diário, o esbarrão. Um esbarrãozinho, um toque praticamente involuntário, encontro furtivo de mãos ou partes menos óbvias do corpo humano. E você aí? Tão estranho tocar uma outra pessoa. Pudera! Tocamo-nos bem pouco, raramente, e paramos a nos apropriarmos dessa sensação adorável, e talvez nova, a refletir de fato sobre esse fardão nobre e único do espírito, que o guarnece e apresenta às marcantes experiências do tato. Delícia, horror, ou nada em si? Vale tanto quanto essa sua relação consigo mesmo!...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quem disse?

A vida tem épocas diversas e cada uma com o que lhe é mais próprio: sua beleza, as suas aventuras, suas vivências, seus limites e indagações, as tendências, as realizações, o que lhe está aí previsto, e mais do que destinado - inexplicavelmente atrelado, indissociável. Ah, os donos da vida, dos tempos, e de tudo o mais que respeita às gentes que somos nós! Quem disse isso? Quem estabeleceu assim? Quem obteve o fio perfeito da espada que secciona a existência em partes às quais cabe de um jeito ou de outro agir e esparar? Nada absolutamente a não ser a robusta vontade cordata e assaz subserviente das pessoas lhes garante tal balela, lhes dá a garantia apassivante e rasa. Não tudo em todo o tempo, e lugar, mas uma (des)ordem encantadora, de um tempero cativante, multi-cor...!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Empregadinha

A empregadinha se vai, e vai é de vez, já sem espaço para ser explorada e invejada pela patroa que mal sabe lhe dar odens e que a odeia, mas a mantém na casa, pelo bem de seu casamento (marido) e a boa iniciação sexual de seus filhos. Mas que feio isso; nem sempre é assim! Nem em sonho?... Bem, além de idade mínima, ela terá garantidos direitos trabalhistas elementares e comuns a todos os demais. Terá melhores salários e condições para o exercício de uma profissão da qual então se orgulhará de verdade e com efeito. No entanto, terá que se preparar, pôr de lado o amadorismo. E as diaristas seguirão o mesmo rumo. Não é justo? Muito! Não poderá pagar? Aprenda a cuidar de si! Saber se cuidar é para todos, inclusive nós homens. A empregadinha... se foi...!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Dois

Sim, sou dois, e não um só. O bom e o mau, sério e que ri, o triste e o alegre, o que ama e o que odeia (o indiferente está de licença...), bonito e feio, o são e o adoecido, o arrumado e o desleixado, o estudioso e o relaxado, o esforçado e o preguiçoso. Sim, dois, um não basta; iguais, um duplo, dois iguais. Um sou eu, e o outro também! O esperto e o bobo, o fiel e o que trai (não se espalhem isso, hein!), o interessante e o chato, o sábio e o ignorante, o perseverante e o que nem tenta, o que insiste e o que desiste, o que fala e o que cala, o que olha e o que desvia o olhar. Ah, que quimera ser apenas... Ele e ele, eu e eu, nunca nós! Que incomoda e interessante, o justo e o injusto, o caloroso e o frio, o doce e o amargo, o que é carinhoso e o que esconde ambas as mãos. Sim e o não!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ilusão

Como é difícl, apesar do bem que faz, dizer adeus à ilusão! É um corte profundo, de dor lancinante, a jorrar esperanças ralas, enfraquecidas, sem sabor, que se quer a permanecer, que se acalenta, e que acabam por, tiranicamente, dominar. Ah, é só imaginar... e sofrer, dar vazão a tanta fantasia irrisória, indefinidamente! Que tristeza, e que alegria, a vivência de ver ralo abaixo, deixado para sempre o que real e próximo parecia, como estar mais leve do compromisso de alimentar o que jamais existiu. E depois disso que vem? E a realidade, o que existe, onde, como? Querer não, bem mais que mero querer - desejar; uma possibilidade desde logo. O engano é muito fácil; o preço a pagar, contudo, também o é - seja no sonho que fascina, sedutor, ou seja na despedida dele!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Faça hoje ainda!

Não perca tempo: ainda hoje, tome alguém pela mão, saia a passear. Não importa a hora do dia, da noite. Sinta o calor do sol, o vento da tarde, o aroma do jasmim, o orvalho da madrugada. Caminhe devagar; sorria olhando nos olhos, chore; abrace, com força, sem poupar corpo, sem evitar tocar - nada lhe faltará depois, ao contrário sobrará muito. Dê (de) você, faça carinhos... Silencie, fale. Diga do amor, nele englobando admiração, apreço, saudade, tudo o mais de bom, sem medo, e até de desejo; "amo você" não pode ser apenas expressão duma miragem, a propor algo, senão conclusão, resultado! Não julgue, ouça; além de palavras, os afagos da entonação a roçar o âmago da sensibilidade. Responda 'sim', bem mais que 'não'! Faça enquanto é possível; e hoje ainda...

domingo, 1 de junho de 2008

Po e sia 4

põe-se na forma
dita-se a regra
assim na força
e se arremessa
põe-se na forma
regra-se a dita
torce-se a forca
não se sai dessa
firma-se a mão
a mente sangra
no sim no não
ai que desdita
tanta promessa