sábado, 14 de junho de 2008

Des-entendimento

No leito de dor, murmurava à esposa dedicada e atenta: "mu, mu...", e nada mais; o dia inteiro, a noite toda! Irritada, ela soltou os cintos da reconhecidamente austera dignidade pessoal e, verbo duro, não teve dó de seus ouvidos sensíveis de enfermo. Recordando e resumindo toda aquela relação, e o histórico dele, contou que queria sua morte, viveria com seu sócio, seu dinheiro iria todo em sapatos e perfumes, e muitas sandices mais. Foi embora com um sonoro: "Seu desgraçado! Tá me chamando de vaca...". E ele se foi, também! Na manhã seguinte, o aviso e o desespero. No hospital, saber do suicídio não lhe trouxe abalo maior, mas sim verificar que ele, sem poder expressar-se direito, escrevera com sangue no lençol a singela e mal compreendida frase: “te aMO MUito”...!